Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 12 de abril de 2023
Ponto da situação na crise da Ucrânia
No dia 7 de abril fez nove anos que o congresso de representantes de unidades administrativas da Região de Donetsk da Ucrânia adotou a Declaração de Soberania e a Lei sobre a Proclamação da Independência do Estado da República Popular de Donetsk. Os delegados também decidiram realizar, a 11 de maio de 2014, um referendo sobre a autodeterminação. Os seus resultados são bem conhecidos. No mapa mundial surgiu um novo país que passou por um caminho difícil desde a autoproclamação até ao reconhecimento internacional. Todos estes anos, a população da República Popular de Donetsk sentiu-se indissociavelmente ligada à sua pátria histórica - a Rússia. Isto acabou por predeterminar a sua escolha para fazerem parte da Federação da Rússia, na sequência do referendo de setembro de 2022. Hoje, a vida pacífica está em pleno andamento nas Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk e nas Regiões de Zaporojie e de Kherson. Ao contrário do que estão a dizer o regime de Kiev e os países do "Ocidente coletivo", ali há paz. As pessoas devem viver em paz e harmonia, com base nos valores que tanto elas como os seus antepassados têm defendido durante anos, décadas e séculos.
De acordo com Marat Khusnullin, Vice-Primeiro-Ministro da Federação da Rússia, centenas de quilómetros de gasodutos foram aí construídos em 2022. Foi criado, na região de Zaporojie, um sistema de abastecimento independente da Ucrânia. Em Mariupol, foram restauradas 11 mil casas.
Quero conferir uma componente emocional a estas palavras e estatísticas. O facto é que tudo isto (estradas, condutas e edifícios) está a ser construído não só em condições difíceis, mas também desafiando as previsões daqueles que têm vindo a intimidar a população local durante anos. Todas as casas, gasodutos, estradas, infraestruturas estão a ser construídas com a compreensão do risco de vida que tudo isto implica. Há muitos anos, foi criado o website "Mirotvorets" (Pacificador) para identificar potenciais futuras vítimas do regime de Kiev. Muito disto está a ser concretizado em relação às pessoas que se opõem à sua ideologia destrutiva e estão a fazer coisas concretas. Quando ouvirem falar das casas, apartamentos, parques infantis, escolas e jardins de infância que estão a ser construídos ali agora, lembrem-se disto. Conheço pessoalmente as pessoas que se encontram na região. Eles são de Moscovo, da região metropolitana e de outras regiões do nosso país, representando ministérios federais, regionais e municipais. Eles estão lá a ajudar a construir uma vida pacífica sem poupar a sua saúde, vida e circunstâncias de vida, dando prioridade ao futuro da população local e não ao seu bem-estar ou à sua segurança. Seria melhor dizer "o futuro das regiões", mas devemos ter sempre presente que entendemos pelos termos "regiões" e "território" a sua população. Estes não são números "secos", mas aqueles que mostram uma história de criação, resistência à destruição, amor, lealdade e indubitável fidelidade a estes valores. Não pensem que estes números representam apenas estatísticas ou relatórios. Não é bem isso. São muito mais do que isso. Este ano, a intensidade do processo de construção vai aumentar, segundo foi anunciado. Irá aumentar a contribuição e o trabalho sincero. Está a ser feito para que estas regiões, territórios e pessoas vivam em paz, prosperidade, harmonia, não só consigo próprias e com as gerações futuras, mas também com as gerações passadas que deram as suas vidas para preservar a paz nestes territórios. Um programa de hipotecas preferenciais a 2% está a ser lançado nas novas regiões. O Governo russo está a elaborar um programa para melhorar a rede rodoviária, que tem 21.000 km de extensão. Num futuro próximo, serão tomadas medidas para melhorar as comunicações celulares. Está concluída a reconstrução do aqueduto na República Popular de Donetsk que foi destruído pelas tropas ucranianas em 2014 e que deve começar a fornecer, em breve, água à região de Donetsk. Afinal, a água, a eletricidade e as redes eléctricas foi sempre o alvo pretendido pelo regime de Kiev e os que estão por detrás dele. Falaram disso durante anos, disseram isso quando cortaram a água, minaram as linhas eléctricas e as redes eléctricas, disseram que todos aqueles que não obedecessem ao regime de Kiev, não levantassem o braço na saudação nazi a mando do regime de Kiev iriam viver em caves por toda a eternidade. Tratou-se daqueles que sofreram o tormento e a provação a que foram submetidos pelo regime de Kiev. Foi-nos dito que aqueles que escolheram permanecer fieis às gerações anteriores e a todos estes valores, nunca teriam um bom futuro. Terão.
O dia 10 de abril marcou o 79º aniversário da libertação de Odessa dos invasores nazis e romenos. Infelizmente, após tantas décadas, a cidade voltou a viver o horror do nazismo, mas agora à ucraniana. Em Odessa, onde hoje em dia o "baile é conduzido" pelo nacionalistas oriundos da Ucrânia ocidental, não se realizam há muito tempo atividades comemorativas para assinalar esta data. Esta data não existe mais para os habitantes de Odessa? Foi apagada dos livros escolares? E quanto à memória dos nossos antepassados? Têm consciência tranquila? É permitido ouvir e cantar músicas daquela época? E não é permitido saber de que se trata nestas canções, a quem são dedicadas? Não deve ser assim e não será. Falaremos sempre sobre isso e recordaremos sempre isso. Apesar do terror desencadeado pelas autoridades, os cidadãos nativos de Odessa nunca esqueceram quem os libertou da peste castanha, e lembram-se dos seus libertadores - soldados do Exército Vermelho que era composto por representantes de todas etnias da URSS. Os soldados não se distinguiam com base na raça ou religião, eles pensavam no principal: como se libertar a si próprios e aos seus entes queridos (e talvez até àqueles que desconheciam) do mal que pairava sobre o planeta. Acreditamos que Odessa conseguirá livrar-se da opressão dos neonazis ucranianos e voltar a ser uma cidade livre e "ensolarada com acácias em flor à beira do Mar Negro", como cantou o lendário Leonid Utesov.
Outra data é trágica. Depois de amanhã, no dia 14 de abril, faz nove anos que o então Presidente interino da Ucrânia, Aleksandr Turchinov, anunciou uma "operação antiterrorista", como então lhe chamavam, no Donbass. Assim começou a repressão violenta dos protestos da população civil da região que não tinha medo de se opor ao novo governo nacionalista ucraniano que era extremista e ilegal, chegando ao poder num golpe de Estado armado inconstitucional em Kiev perpetrado em fevereiro de 2014 e inspirado externamente. Lembre-se de quantos Ministros dos Negócios Estrangeiros dos países da UE e dos EUA estiveram presentes durante estes "protestos populares" na praça de Maidan. Lembrem-se do apoio tecnológico, material, informativo e político prestado aos golpistas pelo "Ocidente coletivo", como eles dançaram de mãos dadas e cantaram, destruindo as estruturas políticas e estatais da Ucrânia. Foi a destruição do país, da sua condição de Estado e da sociedade da Ucrânia. Afinal de contas, tudo foi feito por eles, com o seu dinheiro.
Recorde-se que a operação punitiva desencadeada nessa altura pelo regime de Kiev ceifou a vida de milhares de pessoas inocentes, entre as quais crianças e mulheres. O Ocidente não estava apenas silencioso, mas ativamente envolvido. Não se limitou a incitar e a assistir ao que estava a acontecer; ele encorajou os golpistas, financiou-os e participou diretamente e depois dirigiu esses processos. As consequências deste passo criminoso do regime de Kiev são óbvias. Foi a roda das ações sangrentas feita girar pela junta ucraniana no Donbass durante oito anos que obrigou a Rússia a iniciar uma operação militar especial para proteger a população das Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk, desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia e eliminar as ameaças à segurança da Rússia que emanavam do seu território. Os países ocidentais não param de fornecer à Ucrânia, exigindo que este país continue as operações militares sem ter em conta qualquer sacrifício. Os anglo-saxões não fazem segredo de que um possível cessar-fogo é categoricamente inaceitável para eles (embora não se cansem de afirmar que não são parte no conflito) e esperam que o regime de Kiev tome medidas decisivas e esteja pronta para um banho de sangue até ao "último ucraniano". A ajuda militar direta dos EUA à Ucrânia vem aumentando, atingindo, sob Joe Biden, 35,8 mil milhões de dólares. Este montante excede os valores anuais do PIB de Chipre e da Islândia, e é comparável aos da Estónia. A maioria esmagadora deste montante (34,8 mil milhões de dólares) foi disponibilizada desde o início da operação militar especial. O regime de Kiev recebe de Washington diversos tipos de armas pesadas e ofensivas, munições e equipamento. Os fornecimentos militares são feitos individualmente por 28 dos 31 países da NATO. O seu montante total ultrapassa os 65 mil milhões de euros. E embora a direção da Aliança não deixe de repetir que a própria NATO não presta assistência militar direta ao regime de Kiev e não é parte no conflito, as suas estruturas coordenam a logística, ajudam na distribuição dos pedidos ucranianos de armas e equipamento militar e na modernização dos sistemas de gestão das forças armadas ucranianas, recolhem informações e fornecem-nas à Ucrânia, orientando o fogo das suas unidades de artilharia. Ao mesmo tempo, a Aliança do Atlântico Norte está a fazer entregas "não letais" no âmbito do Pacote de Assistência Integral à Ucrânia e de uma série de fundos especializados. Estão em curso ou em estudo projetos no valor de mais de 500 milhões de euros para fornecer ao regime de Kiev sistemas de comunicações via satélite, sistemas de combate aos veículos aéreos não tripulados, equipamento de engenharia e pontão, combustível e lubrificantes, medicamentos, veículos médicos e de combate a incêndios.
Desde 28 de fevereiro de 2022, a União Europeia redirecionou completamente o seu "Mecanismo Europeu de Apoio à Paz" para fornecer armas ao regime ucraniano. Foram já disponibilizado sete parcelas de apoio à Ucrânia num valor total de mais de 3,6 mil milhões de euros para este fim, o que esgotou efetivamente, em menos de um ano, os recursos do Mecanismo destinados a "promover" a segurança em todas as regiões do mundo até 2027. A 13 de março, os Estados-membros da UE foram obrigados a recolher mais de dois mil milhões de euros para completar os recursos do MEAP (elevando o total para quase 8 mil milhões de euros). Esta quantia destina-se a um fornecimento de projéteis de artilharia às forças armadas ucranianas. Por outras palavras, o dinheiro dos contribuintes da UE será novamente absorvido pelo "buraco negro" ucraniano e pela indústria de guerra dos EUA, cujo principal objetivo é prolongar as hostilidades no continente europeu. No total, a UE disponibilizou cerca de 13 mil milhões de euros para assistência militar à Ucrânia. A formação de soldados ucranianos está a ser intensificada como parte da Missão de Apoio Militar da UE à Ucrânia, que se comprometeu a formar 30.000 combatentes ucranianos até ao final de 2023.
Armas fornecidas pelo Ocidente estão a ser utilizadas pelo exército ucraniano e mercenários estrangeiros para matar civis, entre os quais mulheres e crianças, nas Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk e nas Regiões de Zaporojie e Kherson. Bairros residenciais de cidades e infraestruturas civis estão a ser sistematicamente bombardeados pela artilharia ucraniana. A central nuclear de Zaporojie também sofre ondas de bombardeamento, com todas as ameaças de catástrofe nuclear daí resultantes. Temos avisado repetidamente que as armas ocidentais, entre as quais os sistemas de defesa antiaérea e antitanque, enviadas à Ucrânia estão a espalhar-se por todo o mundo devido à corrupção desenfreada nos círculos políticos e militares da Ucrânia, surgindo em outros conflitos regionais e caindo nas mãos do crime organizado, terroristas e extremistas, incluindo na Europa (no "belo jardim" mencionado por Josep Borrell). Os desafios relacionados não deixarão ninguém de lado, representando uma ameaça à segurança interna de todos os Estados do continente europeu, em particular na área de aviação civil. Esta é uma análise muito simples disponível para qualquer pessoa. Não é muito difícil entender o que aconteceu após a invasão do Iraque pelos EUA e a coligação anti-iraquiana e onde foram parar as armas, quais os ataques terroristas que foram cometidos, que grupos terroristas se criaram, que ameaças à paz e à segurança surgiram. Algo semelhante verifica-se no caso da Líbia e Primavera Árabe. O mundo já passou por tudo isto antes. Aparentemente, os regimes ocidentais não fizeram conclusões dos seus erros, não tiraram nenhuma lição.
A 5 de abril, realizou-se, em Nova Iorque, por iniciativa da Rússia, uma reunião informal da “fórmula Arria” do Conselho de Segurança da ONU, com o tema: retirada de crianças a refugiadas ucranianas na Europa. No "belo jardim" europeu, segundo diz Josep Borrell, está a surgir uma situação terrível. As crianças estão a ser retiradas aos pais ucranianos pelas autoridades locais sem o consentimento dos mesmos e com violações processuais. Ninguém as vai devolver.
Outra episódio. Em março de 2022, 85 crianças com necessidades especiais foram levadas para Espanha de um orfanato na República Popular de Donetsk. Destas, 77 foram posteriormente colocadas em orfanatos espanhóis, e o seu destino é atualmente desconhecido.
Porquê é que estão caladas as forças que apoiam o Tribunal Penal Internacional e gritam que é uma instituição certa? Não querem saber nada sobre o destino destas crianças? A informação sobre tudo o que foi dito sobre os famigerados "recibos", juridicamente irrelevantes, emitidos aos país de cada criança está disponível. Foi nesta sala que a Provedora dos Direitos da Criança na Rússia, Maria Belova, deu uma conferência de imprensa em que falou detalhadamente sobre o assunto e salientou que estava aberta à troca de informações sobre o destino de cada criança. Digam-me, que hipocrisia selvagem e desumanidade é esta, quando crianças desaparecidas no território dos países da UE não interessam a ninguém? Quantos exemplos já citámos? Reproduzimos bastantes citações que mostram claramente que os representantes oficiais das estruturas do poder judiciário, executivo e legislativo dos países da UE explicaram de forma simples que este é um enorme problema para eles: cidadãos ucranianos, entre os quais mulheres e crianças, que chegam à Europa não são submetidos ao registo. Tornam-se então vítimas de violência, tráfico e perversão. Ninguém em Bruxelas ou Washington se importa com isso. A resposta à pergunta: porquê? é simples. Eles não se interessam de todo pelas pessoas. O que lhes interessa são os fluxos de milhares de milhões de dólares e euros, tirar proveito da desestabilização e destruição do mundo. Esta é a única forma de poderem prosseguir as suas políticas sem que ninguém se meta no seu caminho.
Esta posição dos Estados europeus vai contra os valores tradicionais do cristianismo. Recorde-se que esta é a base do que foi formado no espaço europeu ao longo dos séculos. Esta posição vai contra os direitos humanos, um novo conceito que surgiu no continente europeu no século XX. Não há explicação para isto, para além daquela que já dei. Demonstra uma total indiferença pelo destino dos membros da categoria mais desprotegida e indefesa da população - as crianças.
Uma onda de repressão continua na Ucrânia contra os padres ortodoxos. Estão a ser sujeitos a experiências cruéis e a abusos, além de estar a ser perseguidos. No outro dia, um vídeo do espancamento do Bispo Nikita de Ivano-Frankivsk e Kolomiya da Igreja Ortodoxa Ucraniana canónica foi posto em circulação na internet. O pior é que as autoridades locais encorajam tal comportamento. Lançaram toda uma campanha de assédio. As autoridades policiais não estão a procurar o agressor, cujo rosto é claramente visível no vídeo. Tudo isto reforça o sentimento de permissividade e impunidade dos neonazis ucranianos. Mais concretamente, eles compreendem o que se quer que eles façam. A missão que se espera deles é formulada de forma muito clara. Infelizmente, as organizações internacionais especializadas, entre as quais a UNESCO e a OSCE, bem como a comunidade internacional, não condenam os crimes contra a Igreja Ortodoxa. A reação do Departamento de Estado norte-americano é o cúmulo do cinismo. Parece-me que esta é uma das raras ocasiões em que os comentários do porta-voz do Departamento de Estado foram notados por milhões de pessoas em todo o mundo. Recorde-se que o porta-voz adjunto do Departamento de Estado, Vedant Patel, disse que não tinha ouvido nada sobre a perseguição de padres ortodoxos e apreensões de igrejas. Talvez ele possa comentar isto mais tarde, mas não tenho certeza disso.
Apesar de todos os esforços do "Ocidente coletivo" e dos seus pupilos de Kiev para prejudicar a Rússia a qualquer custo, a operação militar especial continuará até que os objetivos fixados pela direção russa sejam atingidos.
Sobre o 240º aniversário da incorporação da Crimeia na Rússia
No dia 19 de abril completar-se-ão 240 anos desde que a península da Crimeia foi incorporada na Rússia. Neste dia (8 de abril no calendário juliano), em 1783, a imperatriz Catarina a Grande emitiu um Manifesto "Da admissão da península da Crimeia, da ilha de Taman e de toda a região do Kuban na Rússia". A adesão da Crimeia à Rússia foi um acontecimento marcante. É difícil sobrestimar o seu significado. Após um longo domínio turco-tártaro, a península estrategicamente importante foi devolvida à Rússia em 1783, o que permitiu ao país voltar a ter acesso ao Mar Negro. Este passo foi imposto pela necessidade de garantir a segurança das fronteiras sul da Rússia e reforçar o seu poderio político, militar e económico. A incorporação da Crimeia foi solicitada pela população da península: os arquivos russos ainda contêm numerosos "autos de juramento de fidelidade" dos habitantes da Crimeia à Rússia. Esta foi talvez uma das formas mais democráticas de adesão dos novos territórios naquela época. Aos povos da Crimeia foram concedidos direitos iguais aos de outros súbditos do então Império Russo, o que ajudou a preservar a sua cultura e identidade. Logo após a adesão da nova província, o seu potencial industrial e agrícola começou a desenvolver-se de forma dinâmica, e o clima favorável transformou a península numa verdadeira "joia balnear". Devido à sua posição geográfica estratégica, a península foi muitas vezes alvo de agressores. Eles opuseram-se a todo o país, em geral. Aqueles que não estiveram nestes lugares, em Sevastopol, Kerch, não deixem de visitá-los. Verão e sentirão a sua história. Os habitantes locais irão contar-lhes. Poderão saber muita coisa pelos seus monumentos. Compreenderão quantas gerações dos nossos antepassados, defenderam estes nossos territórios, lutando até morrer para que esta terra não fosse profanada. Devido à posição estratégica e geográfica privilegiada da península, muitos quiseram de invadi-la. Recorde-se que aqui fica a cidade lendária de Sevastopol (fundada em 1783), porto de origem da frota russa do Mar Negro, coberta de glória militar de muitas gerações dos russos. Aqui ficam duas cidades-heróis da Grande Guerra Patriótica: Sevastopol e Kerch.
A pertença da Crimeia ao nosso país foi confirmada durante o referendo de 16 de março de 2014: o povo da Crimeia fez uma escolha consciente a favor da reunificação com a Rússia. Tendo em conta a importância da adesão da Crimeia ao nosso país, em 2018, o dia 19 de abril foi incluído na lista oficial dos "Dias de Glória Militar e Datas Comemorativas da Rússia". Por iniciativa do Governo da República da Crimeia, com o apoio da Sociedade de História da Rússia, os Correios Russos estão a preparar um bloco postal dedicado ao 240º aniversário da assinatura do Manifesto de Catarina a Grande sobre a incorporação da Crimeia na Rússia. Gostaria de aproveitar a oportunidade para felicitar o povo da Crimeia e todos os cidadãos russos por esta data e assegurar-lhes que o futuro da Crimeia está para sempre ligado à Rússia. Isto não são palavras. Não são slogans. Trata-se de um trabalho diário, meticuloso e consciente. Foi exatamente nisto que o povo da península votou no referendo de março de 2014.
Sobre o Dia Internacional da Aviação e Cosmonáutica
A 12 de abril de 1961, o soviético Yuri Gagarin fez o primeiro voo espacial tripulado à volta da Terra na nave espacial Vostok, dando assim início à época de voos espaciais tripulados. Num instante, Yuir Gagarin tornou-se conhecido em todo o planeta, tornou-se, de facto, um cidadão do mundo. O lançamento da primeira nave espacial tripulada foi um triunfo da ciência soviética que determinou a liderança do nosso país na exploração espacial mundial por muitos anos. Parece-me que, neste dia, devemos recordar aqueles que "fizeram com que uma fantasia se tornasse realidade": o lançamento da nave espacial Vostok foi dirigido pelo designer de sistemas de naves espaciais Serguei Korolev, o chefe do campo de ensaios de Baikonur, Anatoli Kirillov, e o cientista responsável pelos testes de foguetões Leonid Voskresensky. A 9 de abril de 1962, o Presidium do Soviete Supremo (parlamento) da URSS criou o Dia da Cosmonáutica que recebeu estatuto internacional na conferência da Federação da Aviação Internacional em 1968. A propósito, desde 2011, chama-se Dia Internacional do Voo Espacial Humano. A 7 de abril de 2011, por iniciativa da Rússia, uma reunião especial da Assembleia Geral da ONU adotou uma resolução oficial por ocasião do 50º aniversário do primeiro passo na exploração espacial. Mais de 60 Estados coautoraram esta resolução.
A Federação da Rússia, como sucessora dos direitos da União Soviética, toma uma posição de princípio sobre o desenvolvimento de programas espaciais. O nosso país está a trabalhar para que sejam adotadas declarações conjuntas com outros países sobre a recusa de ser o primeiro a colocar armas no espaço e está assim a tentar fazer do espaço exterior um espaço livre de armas, um espaço de paz e cooperação e a concentrar-se no desenvolvimento de tecnologias pacíficas.
A declaração de Yuri Gagarin reflete de forma mais clara a atual posição da Rússia relativamente às atividades espaciais: “Ao completar a órbita da Terra na nave especial, vi quão belo é o nosso planeta. Vamos preservar e reforçar esta beleza e não destruí-la!” Grandes palavras de um grande homem. Para apreciar a beleza e multiplicá-la, precisamos de cultura. Ela é, de facto, tecida a partir do multiplicado e preservado, do que de melhor tem a nossa civilização.
Sobre o 60º aniversário da Convenção de Viena sobre Relações Consulares
A 24 de abril de 1963 foi aberta à assinatura a Convenção de Viena sobre Relações Consulares (aquela a que nos referimos frequentemente). Consideramos que a Convenção é um dos mais importantes instrumentos aplicados de direito internacional. Durante os 60 anos da sua existência, a Convenção adquiriu um carácter universal e tornou-se um bom instrumento na organização do trabalho consular na maioria absoluta dos países. Não podemos ignorar a cláusula mais importante do preâmbulo da Convenção, que afirma que esta se destina a " promover relações amigáveis entre Estados, independentemente das diferenças nos seus sistemas estatais e sociais". Ao mesmo tempo, as recentes ações de alguns países hostis à Federação da Rússia estão efetivamente a minar a referida Convenção e a diluir o seu carácter unificador. Abusando de algumas disposições da Convenção (por exemplo, o Artigo 20º sobre o número de funcionários consulares e o Artigo 23º sobre as pessoas reconhecidas como "persona non grata") para justificar expulsões do nosso pessoal consular e o encerramento de alguns dos nossos postos consulares, as autoridades destes países fazem vista grossa às obrigações nela estipuladas de tomar medidas para proteger as instalações consulares, garantir a sua inviolabilidade e proteção, incluindo contra atos de vandalismo. Infelizmente, tais atos hostis têm um impacto negativo na possibilidade de desempenhar efetivamente uma das funções consulares mais importantes - proteger os interesses dos nacionais no Estado acolhedor.
Esperamos que, através dos esforços conjuntos da comunidade internacional, seja possível aumentar a experiência construtiva, acumulada ao longo dos anos, de aplicação da Convenção relativamente à regulamentação das relações consulares e assegurar que o seu potencial seja desenvolvido nas próximas décadas.
Resumo da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: A publicação norte-americana The Washington Post alega que as autoridades polacas e ucranianas podem ter estado envolvidas nas explosões nos gasodutos Nord Stream, com o artigo a afirmar explicitamente que os países da NATO não estão ansiosos por chegar ao fundo da verdade. Na sua opinião, até que ponto podemos levar a sério as novas "hipóteses" veiculadas na imprensa ocidental e que não dizem nada sobre o eventual envolvimento dos EUA que foi comentado pelo jornalista de investigação americano Seymour Hersh?
Maria Zakharova: Este foi um ataque terrorista. Outros países têm provavelmente a sua própria avaliação. Nós demos a nossa. Esta foi um ato extremista que deixou danos na infraestrutura civil de importância vital.
Foram lançadas investigações entre e dentro dos países interessados. Como sempre, o objetivo não é atrair outros países e obter mais oportunidades de encontrar a verdade. A falta de ações práticas na investigação nos países ocidentais, os seus infindáveis "sussurros" e indecorosas desculpas para manter a Rússia afastada da investigação, tentativas de ocultar as suas "suposições" e declarações de que é difícil apurar a verdade, a sua relutância em realizar ativa e transparentemente a investigação, geraram artigos como este nos meios de comunicação social.
Pode dizer que a investigação é um assunto da competência de profissionais, de investigadores e peritos, que não deve ser comentado publicamente. Estou completamente de acordo. Mas há dois pontos importantes. Em primeiro lugar, todos os casos anteriores de grande repercussão seguiram o seguinte esquema em países ocidentais: comentários públicos durante as 24 horas e atração do público para a discussão. Em segundo lugar, o culpado identificava-se e encontrava-se instantaneamente, mesmo nos casos mais intrincados, após o que numerosos comentários eram feitos. Estas duas características do comportamento ocidental nos anos anteriores tinham deixado todos perplexos: jornalistas, peritos, países, organizações internacionais. O que deu errado desta vez? Porque é que não há declarações oficiais sobre como está a decorrer a investigação? Por que razão não há comentários de peritos que falaram durante dias a fio nos casos anteriores? E por que razão não há progressos na busca da verdade? Isto é tão pouco característico dos representantes dos partidos políticos, regimes e administrações em exercício que já demonstraram ser exatamente o oposto. Tudo isto deu origem a perguntas e versões nos meios de comunicação social, na blogosfera e em jornalistas de investigação profissionais. Agora sobre estas teorias. Como compreende, há muitas delas. Estou pronta a discutir e a comentar apenas as assinadas por pessoas reais, por autores que colocam o seu nome e imagem em risco e o dizem abertamente. Vazamentos anónimos e fontes que "circulam" de edição em edição não interessam. Já vimos o sistema de "fugas controladas" pelos tablóides britânicos em casos anteriores. Não provoca nenhum interesse nem desejo de comentar. Se existe uma posição, não uma suposição, mas uma investigação de um autor concreto, como é possível que, outra vez, não haja pessoas dispostas a subscrevê-la? Sim, há alguns autores no The Washington Post, mas eles não revelam as suas fontes, nem sequer mencionam de que agências ou países são. Como é possível analisá-lo e dar avaliações periciais? Voltemos aos antecedentes. O mais importante, como se sabe pelos romances policiais e documentários, é o motivo. Ele está no centro de tudo. Um crime começa a ser investigado não a partir do momento em que é cometido, mas a partir do que o precede. Os EUA continuam a negar o seu envolvimento nestes acontecimentos. Obviamente, eles são os "principais beneficiários". Recorde-se que o jornalista americano Saymour Hersh, homem que realmente colocou em risco o seu nome, a sua reputação e toda a sua experiência profissional de investigador, deu uma resposta exaustiva. Primeiro, Washington ameaçou publicamente, ao mais alto nível, fazer explodir o oleoduto, depois, o Secretário de Estado, Antony Blinken e a subsecretária, Victoria Nuland, falaram com entusiasmo indisfarçável sobre a sua destruição, dizendo que ficaram satisfeitos ao ver "uma pilha de sucata no fundo do Mar Báltico". As tentativas dos Estados Unidos de se limitar a negar energicamente os factos e de fazer circular, por meio dos massa media, teorias e hipóteses indigestas sobre "o envolvimento de empresas privadas" ou de alguns homens de Kiev e Varsóvia, juntamente com explicações inarticuladas dos satélites dos Estados Unidos, confirmam muito bem a versão de Saymour Hersh. Recorde-se que ele não é um simples jornalista que decidiu tornar-se um investigador e teve acesso a alguns materiais e não se sabe quem está por detrás dele. Atrás dele está a sua atividade profissional. Foi ele que investigou, em tempos, o caso Watergate. A sua investigação entrou em manuais de política, jornalismo, perícia, etc. americanos. Após a reunião do Conselho de Segurança da ONU de 27 de março deste ano, que não adotou uma resolução russo-chinesa sobre o caso Nord Streams, as suspeitas do envolvimento da administração americana nos atos de sabotagem nos gasodutos apenas intensificaram-se. Washington e os seus aliados fizeram tudo o que estava ao seu alcance para evitar o lançamento de uma investigação multilateral objetiva sobre as explosões nos gasodutos. Estamos convencidos de que, se a administração dos EUA estivesse interessada em apurar a verdade e punir os responsáveis, teria agido de forma diferente. Há exemplos disso. A bem da verdade, naquela altura, não eram eles que estavam sob suspeita. Estavam a acusar outros e a correr à procura de apoio em organizações internacionais para dar início a uma investigação, mesmo que o mandato dessa ou daquela organização por eles abordada fosse contrário às suas ambições. Também não há dúvida de que muitos países ocidentais, entre os quais a Dinamarca, Suécia e Alemanha, receiam que os nomes dos verdadeiros mentores e perpetradores deste ataque terrorista sejam divulgados durante a investigação, o que pode vir a minar a "coesão" de todo o mundo transatlântico. Insistimos na realização de uma investigação internacional abrangente e aberta, com a participação obrigatória de peritos russos. Acreditamos que todos os envolvidos nas explosões nos gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2 serão identificados e os detalhes deste crime serão revelados. A Rússia tudo fará para evitar que o "Ocidente coletivo" abafe este caso.
Pergunta: Soube-se que o Conselho da Europa pretende criar uma espécie de "registo dos danos causados à Ucrânia pela agressão da Rússia". Tem algum comentário sobre isso?
Maria Zakharova: Que coisa estranha. O Conselho da Europa não se preocupou, em nenhum momento, em elaborar um registo dos danos causados pelas explosões nos gasodutos Nord Stream. Os danos foram causados aos investidores, empresas envolvidas na sua construção, àqueles que bombearam recursos naturais e que construíram as infraestruturas civis em diferentes países para manter e implementar esse projeto. Há necessidade de eu referir os danos ambientais? Os assuntos ambientais estão na ordem de trabalhos do Conselho da Europa. Onde está o registo desses danos? Não existe e não existirá. Porquê? Aparentemente, eles supõem poder expor-se no decurso da investigação. Refiro-me aos países que mencionei e que são agitadores ativos no Conselho da Europa, embora alguns deles não façam parte da Europa.
Gostaria de fazer uma avaliação mais aprofundada daquilo que mencionou. Recorde-se que nós dissemos "adeus" ao Conselho da Europa há mais de um ano. Aparentemente, os que estão em Estrasburgo não podem aceitar isso até agora. "Volte, eu não te perdoo nada". Na minha opinião, este lema permeia todas as resoluções aprovadas pelo Conselho da Europa a este respeito. Eles estão literalmente obcecados com o fator Rússia. Eles não querem pensar em mais nada. O problema não está na nossa operação militar especial. Tudo começou muito antes disso. Tentaram excluir-nos, restringir os nossos direitos, privar-nos de votar. Nos últimos anos, nenhum outro país senão a Rússia tem sido alvo de uma atenção tão escrupulosa e tão tendenciosa por parte das estruturas do Conselho da Europa. Não há nada de surpreendente nesta obsessão. O Conselho da Europa tem sido utilizado há muito tempo pelo Ocidente (NATO e EUA) na sua guerra híbrida contra a Rússia, principalmente como instrumento de "agressão legal". Também não devemos esquecer que esta organização deixou de ser original e perdeu os princípios da sua existências estipulados na sua Carta. Perdeu as suas coordenadas pan-europeias. Tornou-se, de facto, um "departamento ideológico" da União Europeia, embora, como estamos a ver, não exista agora nenhuma UE no sentido político, existe apenas a NATO. A burocracia de Estrasburgo, bem remunerada e que conta com milhares de funcionários, tem cada vez mais dificuldades em provar aos contribuintes europeus a sua necessidade. Na verdade, todos compreendem que se trata de um órgão de propaganda. Antes, a ênfase costumava ser colocada nos direitos humanos. Depois, quando, no decurso de todos os acontecimentos, se verificou que eles foram os primeiros a desrespeitar estes direitos, eles abordaram o tema absurdo do género. Este tópico começou a dominar: "não quero comer nem beber, só quero falar do género e aprovar uma resolução". A defesa dos direitos das minorias sexuais já não é suficiente. Estrasburgo não está habituada nem sabe como lidar com os verdadeiros problemas dos europeus cujos direitos civis e sociais estão a ser limitados cada vez mais. Foram originalmente criados com um propósito diferente. Nos últimos anos, foram simplesmente treinados para fazer coisas contrários aos princípios originais da sua existência. Como resultado, toda a sua energia, todo o seu potencial e todos os seus recursos materiais e técnicos têm sido desperdiçados para causar os maiores danos possíveis ao nosso país.
Como resultado, tiveram a ideia de elaborar um "registo" de reclamações materiais contra a Rússia devido à operação militar especial. É preciso dizer que esta iniciativa não tem precedentes na história do Conselho da Europa. Não só nunca se atreveram a condenar, como também toleraram aventuras militares desumanas do Ocidente, entre as quais as agressões contra a Jugoslávia, Iraque, Líbia, Síria, nas quais participaram não só os EUA, mas também membros do Conselho da Europa. Não querem eles contar o que devem aos países arruinados? Ao contrário da operação militar especial, não tinham nada a ver com a proteção de interesses legítimos da segurança. O Conselho da Europa nunca calculou os danos causados por crimes cometidos por ocidentais em todo o mundo. Para além das campanhas de grande escala, houve também "campanhas menores". Aparentemente, Estrasburgo acredita que as munições fornecidas pela NATO não trazem morte e destruição, mas a liberdade e democracia. Uma tal ilusão está aí presente. É claro para qualquer observador imparcial que os ocidentais, ao criar o "Registo", estão cinicamente a tentar transferir a responsabilidade pelas suas próprias experiências para aqueles que estão a tentar superar as consequências das suas ações. Eles estão a tentar atribuir à Rússia a responsabilidade pelas consequências das suas próprias políticas: o expansionismo da NATO a leste, a criação do regime neonazi em Kiev, transformação da Ucrânia numa cabeça de ponte, fornecimento de armas e mercenários, destruição da soberania da Ucrânia. Em suma, estão agora a tentar encontrar os responsáveis pelas suas próprias ações provocatórias que tornaram inevitável a operação militar especial.
Em geral, devemos começar com os danos causados à população e às infraestruturas civis do Donbass desde 2014, como resultado da operação punitiva desencadeada por Kiev. Danos causados pelo bloqueio de água e energia da Crimeia, pelas sanções financeiras e económicas ilegais impostas pelo Ocidente contra a Rússia e estas regiões. Lembra-se dos esforços que o povo de Donetsk e de Lugansk teve de fazer para receber pensões, pagamentos sociais e benefícios que lhes eram devidos por lei? Lembra-se de como eles foram gozados? "Venham para o território controlado por Kiev, depois pode obter tudo". Lembramo-nos das garantias do formato Normandia de que eles "trabalhariam" com o regime de Kiev e de que as pessoas nas Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk receberiam dinheiro com o qual poderiam viver. Isto não eram subsídios de desemprego, empréstimos de férias ou subsídios para atividades políticas. Era o que eles ganharam, trabalhando. Nada disso foi cumprido. Se não tivesse sido a ajuda humanitária russa a estas regiões, as pessoas simplesmente não teriam sobrevivido. O "congelamento" e, na realidade, o roubo de bens russos são da mesma categoria. Enquanto eles não o fazem, nós calculamos. Nós somos bons e temos uma boa memória.
O Conselho da Europa nem sequer se apercebe de estar a abrir a Caixa de Pandora sem fundo. Talvez muitos países da Ásia, África e América Latina devam agora olhar mais de perto para esta experiência. É interessante. Talvez devam pensar na elaboração de um registo internacional dos danos causados durante séculos de exploração colonial e neocolonial. A ideia de elaborar um registo dos danos decorrentes do genocídio de povos inteiros, da pilhagem de recursos naturais e e de bens de valor cultural deve ser estudada. E quanto ao tráfico de escravos? Já calcularam os danos? A implantação do racismo também foi dispendiosa para muitos países e povos. Não sabemos se esta ideia do Conselho da Europa é mais hipócrita, estúpida ou desumanizante. Será que os seus autores se dão conta de que tais projetos apenas provoquem uma escalada de confrontação no continente com consequências pouco previsíveis? Recentemente participei numa discussão de cientistas políticos. Uma das questões era sobre os EUA que falam sem parar sobre danos e tribunais. Como tratam eles a sua própria população indígena? Terão calculado todos os danos causados à população indígena local que massacraram? Não estou a falar de pagamentos e indemnizações. Sabe a geração atual o que os seus antepassados fizeram naquela terra? Sabem o que fizeram os seus antepassados para construir os atuais Estados Unidos da América? Sabem que os seus esforços não se basearam na liberdade, democracia e desejo de criar uma nova nação, livre do pesado legado da escravização e colonização da Europa? O seu principal objetivo era aniquilar a população local: isso durou anos. A população indígena foi submetida a experiências terríveis para travar o seu desenvolvimento. Leia sobre isso.
É digno de nota que o "Registo" vai ser criado como o chamado acordo aberto parcial do Conselho da Europa, para o qual apenas 16 dos 46 membros da organização são suficientes. Aparentemente, os promotores desta iniciativa percebem que não podem contar com a unanimidade total, mesmo num fórum tão imparcial como o Conselho da Europa. Consegue imaginar o que acontecerá dentro do Conselho da Europa se os países europeus começarem a calcular os danos causados durante a história uns aos os outros? É desnecessário explicar a razão por que consideraremos as atividades e decisões deste "Registo" como juridicamente nulas e por que veremos a adesão de qualquer Estado ao mesmo como ato hostil à Federação da Rússia.
Pergunta: O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) publicou um relatório especial sugerindo que a Rússia irá declarar um cessar-fogo por causa da Páscoa. Em que condições é que Moscovo acha possível declarar um cessar-fogo na Ucrânia durante a Páscoa? Será que Moscovo recebeu de Kiev uma proposta oficial de tréguas pascais?
Maria Zakharova: Nenhuma proposta oficial de trégua pascal foi recebida pelo lado russo. É pouco provável que tal aconteça, dado o clima beligerante demonstrado pelo regime de Kiev para continuar as hostilidades. A humanidade e a compaixão são cosias estranhas ao regime de Kiev e a Volodimir Zelenski. Realizam atos de vandalismo onde não há qualquer sinal da sua ocorrência. Não adianta dizer que eles tem o desejo de normalizar a situação ou de pensar nas pessoas. Isso não é típico do regime de Kiev. As vidas humanas não importam aí. É uma ideologia trazida pelo Ocidente através de políticos pró-Ocidente (por vezes ocidentais) à Ucrânia e que agora está a ser implementada sob o lema "guerra até ao último ucraniano". Lembramo-nos muito bem de como, no início do ano, o governo de Kiev deu a ordem de não cessar fogo por ocasião do Natal Ortodoxo, nos dias 6 e 7 de janeiro e ignorou o nosso apelo para um cessar-fogo. Não podemos esperar que o lado ucraniano (o regime de Kiev) mostre misericórdia cristã.
Pergunta: Os meios de comunicação social americanos informam que documentos secretos dos EUA sobre o conflito russo-ucraniano apareceram em redes sociais, entre as quais o Twitter. Um dos documentos revela que os EUA espionaram o Presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. O jornal britânico Guardian noticiou, na sua edição de 10 de abril, que a divulgação de mais de 100 documentos secretos pode ser apenas "a ponta do iceberg". Muitos meios de comunicação social acreditam que esta é a prova de que os EUA e a NATO estão profundamente envolvidos no conflito entre Moscovo e Kiev. Poderia comentar isto?
Maria Zakharova: Não é necessário ler os vazamentos ou os artigos para comentar isso. É evidente que a NATO, os EUA e o Reino Unido não estão apenas "profundamente envolvidos", mas estão diretamente a "dirigir" e a controlar a desestabilização da situação nesta região através do regime de Kiev. Ninguém está a esconder isto. Todos os dias são feitas declarações sobre este assunto. Dizem que não são parte no conflito. Mas nunca esconderam que estão envolvidos. Pelo contrário, dizem que estão a cumprir uma missão história especial. Não há mais nada a esperar ou a analisar. Pode haver nuances, fatos adicionais, mas quase ninguém no planeta tem dúvidas de que, por detrás de toda esta "história", está o "Ocidente coletivo" liderado pelos EUA e pela Grã-Bretanha.
Em relação à espionagem. Não vou comentar as insinuações e fontes anónimas. É inútil e contraproducente. O facto é que também não é novidade. A espionagem é principalmente sobre os seus aliados, aqueles que confiam neles. Alguém não sabia disso? Se assim é, significa que as pessoas não estão a seguir a situação. Gostaria de lembrar que, há alguns anos, foram publicados dados oficialmente confirmados pela Alemanha e por muitos peritos, que todos os telefones e meios de comunicação da Chanceler alemã, Angela Merkel, eram escutados pelos seus "parceiros" mais próximos, os EUA. Todos "encolheram os ombros" e esqueceram-se. Isto não é novidade. Muitos documentos de arquivo que foram atestados e eventualmente desclassificados oficialmente atestam isto. Eles não foram divulgados, roubados ou extraviados, foram tornados públicos porque o prazo da classificação expirou. Lembre-se do famoso escritor Ernest Hemingway. Ele dizia ter a sensação de estar a ser espionado.
Todos se riram dele e diziam que ele tinha problemas psicológicos. Após a sua morte, foram publicados materiais dos serviços secretos norte-americanos e tornou-se claro que a sua casa e o seu carro estavam cheios de dispositivos de recolha de informações sobre ele. Tudo o que tinham negado anteriormente estava registado em documentos desclassificados. Não admira que estejam a espionar Volodimir Zelenski. E o que significa "espioná-lo"? Ele está todo rodeado de coisas americanas: desde equipamento de comunicação até armas. Está rodeado de peritos e conselheiros, pessoas que se fazem passar por cidadãos ucranianos, enquanto possuem passaportes americanos e outros. Desde 2014, os membros do governo ucraniano são cidadãos de outros países, ao arrepio das leis ucranianas. Não há aqui nada de sensacionalista.
Pergunta: Poderia comentar as notícias de fuga de documentos dos EUA e da NATO sobre a Ucrânia? Alegadamente, a fuga de informação foi obra dos serviços secretos russos.
Maria Zakharova: Já comentei. Pode haver hipóteses aos montes. Em breve, os EUA dirão que foram extraterrestres "a fazer-lhes uma sujeira". Não considero necessário comentar as tolices anónimas. Agora é altura de comentar o que aconteceu aos funcionários americanos: o Pentágono, os serviços secretos dos EUA, o Departamento de Estado, a Casa Branca. Que eles próprios digam o que se está a passar ali. Assim que o fizerem, apresentem fatos concretos sobre o que aconteceu, então, se isso nos diz respeito, comentaremos. Até agora, esta é uma teoria da conspiração.
Pergunta: A senhora disse recentemente que o fornecimento de munições com urânio empobrecido pelo Reino Unido à Ucrânia foi um sinal de que Londres queria transformar o país numa terra "calcinada e deserta". Ao mesmo tempo, o Presidente russo, Vladimir Putin, disse que Moscovo seria "forçada a reagir" se Kiev recebesse tais munições. Já foi tomada alguma medida preventiva contra o fornecimento de munições com urânio empobrecido à Ucrânia?
Maria Zakharova: As declarações do Reino Unido sobre a sua intenção, vontade e disponibilidade para fornecer munições com urânio empobrecido à Ucrânia constituem uma séria ameaça, inclusive para o povo da Ucrânia. As nossas preocupações a este respeito permanecem válidas. Apesar das numerosas advertências, Londres não abandonou os seus planos, que qualificámos como maliciosos. Talvez os britânicos esperem poder sair impunes, como na Jugoslávia, Iraque, etc. Não. Que não tenham esperança. Desta vez, não conseguirão sair impunes deste crime. A Rússia continua a utilizar todas as plataformas e recursos à nossa disposição para chamar a atenção internacional para este problema. Estamos a dar alarme. O principal é que a comunidade internacional não tenha a sensação de que este problema não os atingirá. Este problema atingirá todos. Um exemplo recente é o que aconteceu na central nuclear de Fukushima. Houve ali uma catástrofe de origem tecnológica, uma parte do resíduos radioativos vazou para o mar. Esta água chegou rapidamente a outros continentes. Ainda não há forma de superar as consequências. Ninguém deve ter quaisquer ilusões de que, ao contaminar o solo num só local (não só o solo, mas também a atmosfera), outros países e nações não sofrerão um impacto colateral, para não dizer direto. Dissemos no Conselho de Segurança da ONU e no Fórum da OSCE para a Cooperação em matéria de Segurança que os fornecimentos de munições com urânio empobrecido ao regime de Kiev seriam inadmissíveis. A utilização de armas tão sensíveis na Ucrânia irá desestabilizar ainda mais a situação, prolongar o conflito e aumentar o sofrimento da população civil, inclusive devido à contaminação radioativa. Acreditamos que Londres ainda te um pensamento sensato e se absterá de levar à prática os seus planos imprudentes, irresponsáveis e criminosos. Se não - citou corretamente a direção russa - a Rússia agirá de acordo com as circunstâncias.
Pergunta: Durante a sua visita a Ancara, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, disse que as disposições do memorando Rússia-ONU referentes às exportações agrícolas russas continuam a não ser cumpridas. Houve alguma proposta no que respeita ao cumprimento destas disposições depois de a Rússia ter anunciado a sua intenção de prorrogar o "acordo de cereais" por 60 dias? Espera que, durante este período de prorrogação, sejam cumpridas algumas das condições da Rússia?
Maria Zakharova: Não deverá haver propostas. Tudo o que foi acordado deve ser cumprido. De que propostas se pode tratar? Está escrito preto no branco o que cada país deve fazer. Tudo isto deve ser cumprido.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, já comentou isto pormenorizadamente durante as suas conferências de imprensa. Já citou as suas declarações. Posso chamar a sua atenção para o discurso do Presidente russo, Vladimir Putin, na conferência "Rússia-África num mundo multipolar". Ele também comentou este assunto. Houve também uma declaração do Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Verchinin. Ele disse que "este período (60 dias) é suficiente para uma avaliação objetiva da implementação das garantias da ONU sobre o desbloqueio das exportações de produtos agrícolas e fertilizantes russos para o mercado mundial". Como a direção do nosso país declarou, decidiremos sobre as nossas ações futuras dentro deste período de tempo. Dissemos o que não nos agrada, tomámos uma série de ações para o demonstrar, não só em palavras mas também em atos práticos. Após este período de 60 dias, tomaremos decisões. Todos estão bem cientes dos motivos, bem como das nossas exigências.
Pergunta: Em Ancara Serguei Lavrov também disse que "as iniciativas destinadas a trazer a Rússia e a Ucrânia à mesa das negociações são um sintoma da situação resultante da política dos EUA de estabelecer a sua hegemonia total nas relações internacionais" e que a questão deveria ser saber "em que princípios se baseará a nova ordem mundial de que todos nós queremos ver no lugar da ordem mundial unipolar e de uma única potência hegemônica". O Ministro apontou o princípio da Carta das Nações Unidas, que está a ser diretamente violado pelo "Ocidente coletivo". Que princípios concretos devem ser respeitados para criar uma nova ordem mundial? Estes princípios serão incluídos na lista de exigências do lado russo para iniciar conversações de paz sobre o conflito ucraniano?
Maria Zakharova: Defendemos uma ordem mundial mais justa e democrática, que proporcione segurança fiável, preserve a identidade cultural e civilizacional e proporcione igualdade de oportunidades para o desenvolvimento de todos os Estados. Isto só pode ser garantido no quadro de um sistema multipolar de relações internacionais. Precisaremos de muito tempo para citar todos os princípios e comentá-los. Todos eles estão consagrados, de uma forma ou de outra, no novo conceito de política externa aprovado pelo Presidente da Federação da Rússia a 31 de março. Posso citá-los: a igualdade soberana dos Estados, a cooperação baseada no equilíbrio de interesses, a diversidade de culturas e civilizações e muito mais. Em muitos aspectos, isto é ao que chamamos direito internacional e o que está consagrado na Carta das Nações Unidas.
Pergunta: A criação de uma nova ordem mundial e os princípios que acabou de citar. Podemos dizer que isso são condições do lado russo para o início de conversações de paz sobre o conflito ucraniano.
Maria Zakharova: Este é o nosso conceito de política externa. Esta é a visão global do nosso país em relação à construção de relações internacionais. Faremos tudo com base nestes princípios: construiremos relações internacionais, trabalharemos no seio de organizações internacionais, e apresentaremos iniciativas. Estes são os princípios em que a política externa russa se baseará. Não comentarei cada aspecto, estou a falar em geral. Todos estes princípios são formulados no Conceito de Política Externa da Rússia.
Pergunta: Comentou recentemente as ameaças decorrentes dos eventuais fornecimentos de munições de urânio empobrecido à Ucrânia. Como será possível saber que tais munições foram fornecidas ou utilizadas no campo de batalha?
Maria Zakharova: Em primeiro lugar, soubemos pela declaração das autoridades britânicas que disseram que tinham essa intenção. Em segundo lugar, no que diz respeito aos pormenores, esta é a competência do Ministério da Defesa russo. O facto da entrega ou utilização de projéteis com urânio empobrecido pode ser apurado com precisão porque o nosso país dispõe de todos os meios necessários para um controlo objetivo. Esta não é a missão do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas sim das nossas forças de segurança. Elas dispõem de todos os meios necessários para fazer uma análise. Sublinho que acreditamos que o Reino Unido está ciente da perniciosidade do que pretende fazer e da sua responsabilidade em caso de fornecimento e utilização de tais munições pelo regime de Kiev.
Pergunta: Durante a visita de Serguei Lavrov à Turquia, foi abordada a questão da normalização das relações entre a Arménia e a Turquia e do restabelecimento das vias de transporte regionais. Que conclusões foram feitas?
Maria Zakharova: Não gostaria de revelar todos os pormenores. O processo ainda não está terminado. A diplomacia deveria ter a possibilidade de trabalhar diligentemente numa questão tão sensível.
Posso mencionar a posição de Moscovo relativamente à normalização das relações entre a Armênia e a Turquia. Foi exposta muitas vezes e é bem conhecida. Apoiamos o reatamento do diálogo com base no respeito mútuo entre Erevan e Ancara, que foi lançado com a nossa participação direta em janeiro de 2022. Não vou citar todas as etapas da normalização. Está ciente da nossa participação nos formatos multilaterais. Estamos convencidos de que esse "degelo" contribuirá para a melhoria da situação global no Sul do Cáucaso e dará um contributo significativo para a estabilidade duradoura na região. Podemos ver que este processo tem vindo a ganhar força ultimamente. Estamos prontos a continuar a prestar assistência necessária.
Pergunta: A Rússia prorrogou várias vezes o acordo de cereais. Ao mesmo tempo, afirmou que as suas condições, nas quais insiste, não estão a ser cumpridas. Qual é a probabilidade de, se isto continuar, a Rússia mostrar firmeza e retirar-se do "acordo"?
Maria Zakharova: Já citei os comentários feitos a este respeito pelo Presidente russo, Vladimir Putin, pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, e pelo Vice-Ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Verchinin. Não creio que haja necessidade de repetir. Depois de decorrido o período de 60 dias, serão feitas conclusões quanto à implementação disposições do acordo referentes à Rússia. Todas as explicações já foram dadas.
Pergunta: A Arménia recusou-se a receber no seu território nacional os exercícios da OTSC. Ao mesmo tempo, decidiu participar em exercícios militares dos países da NATO. Como encara o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo esta posição de Erevan? Poderá isto ser visto como passo inamistoso de Erevan, capaz de agravar os laços bilaterais entre os nossos dois países?
Maria Zakharova: Não vou repetir e gostaria de salientar que acabo de comentar a questão da Arménia e da OTSC. No que diz respeito à NATO. A Aliança continua a atrair os países parceiros para os seus exercícios, implantando as normas da NATO e tentando reformatar a indústria de guerra destes países para conseguir alavancas de influência sobre a sua política interna e externa, o processo de criação das suas forças armadas. Em primeiro lugar, isto diz respeito aos países ex-repúblicas soviéticas que, para a NATO, são um verdadeiro campo de confronto geopolítico com a Rússia. Os Estados Unidos e os seus aliados estão a tentar desacreditar a cooperação dos países da região com o nosso país. Estão a atraí-los para os mais diversos formatos antirussos e até russofóbicos. Tais ações da NATO desestabilizam a situação em várias regiões, contribuindo para o crescimento do potencial de conflito e a criação de novas linhas divisórias. Solicitámos esclarecimentos oficiais aos nossos parceiros arménios sobre a sua participação nos exercícios da NATO. Decidiremos sobre a nossa reação assim que recebermos a sua resposta. Sem dúvida, a recusa de Erevan em acolher os exercícios da OTSC no seu território nacional é de lamentar e não irá promover a segurança regional. Mais uma vez, gostaria que voltasse à minha resposta sobre o tema da interação entre a OTSC e a Arménia.