Resumo do briefing realizado pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 8 de junho de 2022
Sobre atividades no âmbito do Fórum de São Petersburgo
Como dissemos no nosso último briefing, o 25º Fórum Económico Internacional de São Petersburgo (SPIEF) terá lugar entre os dias 15 e 18 de junho.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, irá participar. Está a ser elaborada uma agenda de reuniões bilaterais do Ministro.
No dia 16 realiza-se um painel de discussão intitulado "Ditadura Neoliberal através dos Olhos dos Russos Residentes no Estrangeiro", organizado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e a agência internacional de notícias Rossiya Segodnya, no âmbito do programa para empresários.
O tema da discussão será a desvalorização dos valores do modelo de democracia liberal ocidental e exemplos concretos a fim de apoiar as conclusões teóricas com casos reais. A discussão abrangerá casos de violações graves dos direitos humanos, dos direitos dos cidadãos russos e dos nossos compatriotas, assim como o desmantelamento daquilo de que o Ocidente se orgulha e o que está na base de um Estado democrático. Haverá participantes e analistas interessantes. Convido a todos para assistirem.
Ponto da situação na Ucrânia
A operação militar especial para desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia e para libertar a Região de Donbass e eliminar a ameaça à Rússia do território ucraniano continua. A paz está a voltar a cada vez mais cidades e aldeias reconquistadas aos neonazis ucranianos e mercenários estrangeiros.
Todos os dias, a operação traz novas e novas provas de crimes de guerra perpetrados por grupos armados ucranianos. Nos últimos dias, os bombardeamentos realizados pelas Forças Armadas ucranianas fizeram mais de dez mortos dezenas de feridos, tendo danificado um jardim de infância e um edifício escolar em Donetsk e uma escola de desporto, um jardim de infância e uma igreja em Gorlovka. Foram também bombardeadas as cidades de Makeyevka e de Yasinovataya. Os militares ucranianos incendiaram a Igreja de Todos os Santos, de madeira, e bombardearam as cercanias para impedir os monges de extinguir o incêndio.
Os nacionalistas ucranianos continuam a estabelecer as suas posições de fogo em prédios residenciais, instituições de ensino, escolas de música e jardins de infância para utilizar civis como escudo humano. Este é o seu traço marcante. As autoridades competentes da Rússia e da Região de Donbass registam estes crimes de guerra para investigá-los e levar à justiça os seus autores.
O regime de Kiev continua a recrutar mercenários estrangeiros para completar as fileiras do seu exército. De acordo com o Ministério da Defesa russo, já foram recrutados mais de 6.500 "soldados da sorte" dos EUA, Reino Unido, Israel, Polónia, Canadá e República Checa. Há também brasileiros e sul-coreanos. Até ao início de junho, o número de mercenários estrangeiros diminuiu duas vezes. Alguns foram mortos, outros desistiram e regressaram a casa ou foram feitos prisioneiros.
Ainda assim, os esforços para recrutar mercenários e "voluntários" prosseguem, visando sobretudo os refugiados afegãos (o que é sintomático) e os elementos do grupo EI que ainda permanecem na Síria. Pelos vistos, encontraram um novo terreno fértil para a sua ideologia misantrópica; desta vez é a Ucrânia onde todos os elementos radicais dos países ocidentais convergem para impedir que a paz se faça no solo ucraniano. Empreiteiros militares privados dos EUA e do Reino Unido são contratados para enviar mercenários recrutados à Ucrânia. Ninguém lhes aplica sanções nem afirma que as suas atividades vão contra o direito internacional. A OSCE, o Conselho da Europa e assembleias parlamentares europeias de todo o tipo têm-se mantido em silêncio. A NATO está satisfeita e também não diz nada, porque tudo está dentro do plano. Eles acreditam que a guerra na Ucrânia deve continuar. Quando se trata de crimes contra a humanidade ou contra o direito humanitário, o Ocidente não tem nada a dizer. Mesmo assim, estas ações serão examinadas através do prisma do direito internacional. O Ocidente procura resolver um problema duplo: por um lado, ajudar Vladimir Zelensky e, por outro, livrar-se dos seus próprios extremistas e radicais. Esta lógica é defeituosa. Estes elementos regressarão a casa, tendo adquirido uma vasta experiência de combate. Isto provocará uma radicalização ainda maior nos países ocidentais. Eles já tiveram experiência, não aprendendo, contudo, nenhuma lição. Querem entrar outra vez na mesma corrente. Uma ideia estranha, mas parece que gostam dela.
Curiosamente, o Ocidente tem seguido a mesma lógica no que respeita aos fornecimentos de armas. Eles acreditam que se trata de um bilhete de ida. Muito pelo contrário. Estão a livrar-se de armas obsoletas, enviando-as para a Ucrânia ou países terceiros e forçando estes últimos a entregar as suas armas que são ainda mais antigas ao regime de Kiev. Parecem esquecer que o fornecimento de armas à Ucrânia cria um mercado negro de armas, inclusive na Europa Ocidental. Os governos dos países fornecedores ainda não se pronunciam a este respeito, enquanto peritos independentes e entidades especializadas como a Interpol já começam a entrar em alerta, pois compreendem que consequências isso pode ter. De acordo com relatos dos meios de comunicação social, grupos criminosos transnacionais já elaboraram esquemas para levar estas armas, inclusive armamentos pesados, da Ucrânia. Parte destas armas já se encontrara na Bósnia, Albânia e Kosovo. Faço lembrar que o Ocidente, os EUA e a NATO mostram uma preocupação invulgar com o futuro dos Balcãs. Podemos imaginar o tipo de futuro que os Balcãs terão sob o patrocínio da NATO com todas estas "armas" vindas do mercado negro. Aqueles que hoje fornecem armas a Kiev estão a pôr em risco a segurança do seu próprio povo, porque estas armas acabam nas mãos de criminosos e terroristas. Isto não é sequer uma questão de responsabilidade legal, mas o facto de que isto ficará na história como responsabilidade dos países centrados na NATO. Não têm como fugir a isto. Estas provas virão à tona durante as investigações dos assassinatos, roubos e assaltos.
Enquanto isso, as autoridades de Kiev e os seus patrocinadores ocidentais continuam a inventar e a divulgar notícias falsas sobre a operação militar especial, tais como os alegados planos das forças russas de atacar as instalações químicas ucranianas. Noticiaram-no de antemão (há três meses). Todavia, a situação real mostra o contrário. As forças militares russas têm desmentido constantemente as falsificações e provocações.
Vamos ver o que o lado ucraniano está a preparar na realidade. Os nacionalistas ucranianos estão a preparar uma nova provocação: pretendem minar barris com agentes tóxicos na fábrica Azot, em Severodonetsk, na República Popular de Lugansk, retendo mais de mil trabalhadores da fábrica e habitantes locais nas catacumbas da fábrica. Para Kiev, a explosão de tanques com mais de 100 toneladas de salitre e ácido nítrico irá conter o avanço das forças russas e das Repúblicas de Donbass e a Rússia será, como sempre, a culpada desse desastre com vítimas humanas. Entristece saber que o regime de Kiev sacrifica as vidas de ucranianos para encenar provocações como esta. Vimos o que eles fizeram em Bucha e em Kramatorsk. Estamos à espera de um "relatório" factual do "Ocidente coletivo", que tem vindo a incitar direta e indiretamente o regime de Kiev a cometer estes crimes.
Acolhemos com muita preocupação a declaração do Ministro da Justiça ucraniano, Denis Maliuska, sobre a criação, no oeste da Ucrânia, de um campo especial para prisioneiros de guerra russos que dificilmente serão trocados por prisioneiros de guerra ucranianos.
Não compreendo como podem coexistir ideias diametralmente opostas no cérebro de algumas pessoas. Por um lado, afirmam não haver neonazis nem ideologia misantrópica na Ucrânia. Por outro, estão a considerar criar campos especiais para os prisioneiros de guerra os quais não tencionam trocar. Já vimos isto acontecer antes? Vimos, sim, é exatamente sobre isto que temos vindo a falar há anos. O regime de Kiev e aqueles que o apoiam importam as suas ideias da história mundial do primeiro terço do século XX: a Europa, o nazismo e o fascismo. É uma nova palavra na técnica de divisão e segregação das pessoas.
Já vimos muitas coisas acontecerem na Ucrânia. Agora estão a planear dividir os prisioneiros de guerra em "bons" e "maus", naqueles que merecem ou aqueles que não merecem ser trocados. O que é isto? Onde estão os ativistas de direitos humanos e aqueles que devem ver se estas declarações estão de acordo com o direito humanitário? Ou continuam a mastigar o caso de Bucha?
As autoridades de Kiev afirmam que as condições de vida dos prisioneiros de guerra cumprem as normas internacionais, mas não temos provas disso. O Comité Internacional da Cruz Vermelha não respondeu, até agora, ao nosso pedido para nos ajudar a visitar os prisioneiros de guerra russos na Ucrânia, enquanto os representantes do CICV e os deputados do parlamento ucraniano foram autorizados a visitar os prisioneiros de guerra ucranianos no centro de detenção pré-julgamento de Yelenovka, na República Popular de Donetsk. Gostaríamos de esperar podermos contar com uma reciprocidade e uma cooperação construtiva com o CICV.
Os crimes de guerra e atrocidades cometidos pelos nacionalistas radicais ucranianos, a militarização desenfreada do regime de Kiev e outros factos descobertos durante a operação militar especial mostram que os objetivos de defender as Repúblicas Populares de Donetsk e de Lugansk e de desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia são relevantes.
Os factos negados pelo regime de Kiev e a comunidade internacional ainda há dois meses tornam-se hoje evidentes para todos: a divisão de pessoas, segregação, abuso, violência psicológica e tortura, tudo isso tem sido cometido sob bandeiras nacionalistas por aqueles que têm as suas mãos manchadas de sangue e de tatuagens nazis e suásticas.
Os objetivos fixados pela liderança russa serão alcançados, como já salientámos em numerosas ocasiões. Isto acabará por ajudar a estabelecer uma paz e estabilidade duradouras e justas na região e na Europa em geral.
Creio que os países europeus que tomaram o lado errado da história, por uma série de razões, estão gradualmente a chegar a ver, embora isto não esteja a acontecer em todo o lado, o que eles ajudaram a realizar no seu continente.
França bloqueia canais de televisão russos
As autoridades francesas provaram mais uma vez na prática a sua "fidelidade abnegada" aos ideais da liberdade de expressão e do livre acesso à informação. A prova mais recente é a decisão da França de suspender as emissões de três canais de televisão russos: o Rossiya RTR/RTR Planeta, o Rossiya 24 e o TV Centre International porque foram incluídos no sexto pacote de sanções anti-russas de Bruxelas. A suspensão das emissões ocorreu em violação dos procedimentos estabelecidos pela União Europeia.
Pelos vistos, as autoridades francesas poderiam ter decidido não esperar até 25 de junho, data até à qual o Conselho da UE deveria aprovar por unanimidade os respetivos atos normativos, e ter desejado defender a "liberdade de expressão" à sua maneira, não se importando que o sexto pacote, como os anteriores, não cumprisse, pelo menos, o direito internacional. Quando se trata de bloquear as cadeias de televisão russas, as autoridades francesas não querem saber nada das regras, regulamentos e normas, mesmo que sejam as suas próprias. Põem tudo no lixo. Não querem sequer saber a opinião dos seus parceiros na UE, que ainda não tomaram uma decisão. Este niilismo jurídico seletivo mostra claramente o que valem as declarações emitidas regularmente por Paris para defender o direito universal de acesso à informação. Ou seja, quando a Rússia bloqueou websites e veículos noticiosos concretos por terem praticado atividades extremistas no seu território nacional com o dinheiro externo (sobretudo ocidental), foi criticada em fóruns internacionais, da OSCE à APCE, por ter bloqueado um, no máximo, dois sítios ou não ter emitido uma licença a uma organização. Já a França bloqueou de uma só vez canais de TV inteiros que tinham grandes audiências, cuja opinião foi ignorada. Não tem sequer como explicar a sua decisão, a não ser uma conjuntura política atual. Este é um sintoma típico de uma doença progressiva do modelo neoliberal ocidental de democracia que está a reduzir a cinzas as suas próprias conquistas, uma após outra, e a desmantelar o seu próprio sistema de valores.
Compreendo que o problema é deles, mas eles estão a exortar o resto do mundo a seguir o seu exemplo, dividindo os países naqueles que "se aproximaram" do seu nível de livre pensamento ou aqueles que estão "atrasados". Os primeiros podem ter o direito de cooperar com eles e entre si e de se desenvolver, enquanto os segundos não têm o direito de serem qualificados de civilizados, desenvolvidos e democráticos até atingirem o respetivo nível. Esta escala de classificação não funciona nem mesmo teoricamente, depois do que foi feito.
Naturalmente, iremos ponderar como responder a tais ações hostis. Daremos a nossa resposta.
Sanções anti-russas atingem economias dos países do Sudeste Asiático e do Pacífico Sul
O desejo de estar entre os primeiros a aderir à política de sanções anti-russas do "Ocidente coletivo " teve um impacto negativo em alguns países da Ásia-Pacífico, principalmente nos seus cidadãos.
Os australianos estão a sentir o efeito deste "dano colateral". Apesar da redução para metade dos impostos especiais de consumo, os preços da gasolina no "continente verde" aumentaram 8,2 por cento desde março passado, com a inflação a subir para 4,3 por cento, o dobro do crescimento salarial. Como resultado, os rendimentos reais dos australianos baixaram para o nível de 2014. Os australianos apreciaram devidamente a política fracassada de Scott Morrison nas eleições parlamentares de 21 de maio, em que o seu partido sofreu uma derrota demolidora.
A inflação na Nova Zelândia bateu o recorde de 30 anos, devendo atingir no segundo trimestre 7 por cento no segundo trimestre devido à alta dos preços dos combustíveis e dos alimentos. Ao que parece, os neozelandeses, que se tornaram muito mais pobres, irão agradecer por isso à coligação governante liderada pelo Partido Trabalhista de Jacinda Ardern durante as próximas eleições parlamentares ou municipais. Além disso, os nossos compatriotas que lá vivem começam a ter problemas ao receber as suas pensões devido às "sanções autónomas" de Wellington impostas ao Sberbank e a outras instituições financeiras russas, o que reduz drasticamente os já modestos rendimentos dos nossos pensionistas.
De acordo com o Ministério do Comércio e Indústria de Singapura, no primeiro trimestre de 2022, a inflação aumentou de 4 para 5,5 por cento, atingindo assim uma taxa recorde desde 2012. O Ministério mantém na faixa de 3 a 5 por cento a previsão do PIB de 2022, assinalando, contudo, que poderá revê-la em baixa devido à situação na Ucrânia e que a alta de preços poderá obrigar a Autoridade Monetária de Singapura (MAS) a endurecer a sua política monetária. É evidente que as restrições de toda a espécie impostas à Rússia no auge da histeria provocaram uma disparada de preços de fontes de energia, destruíram cadeias logísticas, o que afetou a economia e o comércio externo dos países da região. Todavia, a situação é completamente diferente nos países que optaram por manter relações normais com a Rússia e se recusaram a aderir à guerra das sanções, apesar de uma pressão sem precedentes exercida pelos países ocidentais.
O Vietname, Malásia, Indonésia (crescimento do PIB superior a 5 por cento) e Filipinas (mais de 8 por cento) registaram uma dinâmica positiva no primeiro trimestre deste ano. O Camboja espera obter resultados semelhantes. As transações de exportação-importação aumentaram na Indonésia (38%), Malásia (23%) e Vietname (15,6%).
Registámos o interesse crescente dos nossos parceiros da ASEAN pelo petróleo, fertilizantes e alimentos russos. As estatísticas mostram que as exportações russas para estes países cresceram, entre janeiro e março de 2022. Por exemplo, as nossas exportações para o Vietname atingiram 971 milhões de dólares (um crescimento de 48,2 por cento em relação ao período homólogo de 2021). As exportações dos nossos produtos químicos e alimentícios para a Tailândia aumentou 54 por cento e 185 por cento, respetivamente. O intercâmbio comercial com a Indonésia apresenta um aumento de 89%, com a Malásia, 38,5%, com Mianmar, 128%, e com o Laos, 50%. Tirem conclusões por si próprios.
Mundo celebra Dia da Língua Russa
Como já é tradição, no dia 6 de junho, dia de anos do grande poeta russo Alexander Pushkin, o mundo celebra o Dia da Língua Russa.
Gostaria de dizer especialmente aos nossos "parceiros" norte-americanos que o nome de Pushkin era Aleksander, e não Ivan. Ivan era o nome de outro escritor, Turgenev. Ou talvez os nossos amigos intelectuais se referissem a Ivan Shmelyov? Por favor, diga-nos, estamos realmente interessados em saber. Foi assim que diplomatas norte-americanos chamaram a Aleksander Pushkin Ivan. Sentimo-nos magoados pelo faceto. Este dia é celebrado pela ONU no âmbito do programa de multilinguismo e diversidade cultural para manter a igualdade das seis línguas oficiais da organização, entre as quais o russo.
Neste dia, as missões diplomáticas russas, casas russas, associações de comunidades russas nas mais diversas regiões do mundo realizam numerosos eventos, como concertos, leituras temáticas, conferências, encontros com homens de cultura e arte, concursos, jogos de perguntas e respostas, palestras, exposições e aulas de língua russa.
Em muitos países, os nossos diplomatas, compatriotas e habitantes locais formados por universidades russas depositaram flores nos monumentos a Aleksander Pushkin. A propósito, calculam-se em mais de 600 os monumentos ao grande poeta russo erguidos no mundo, com mais de metade deles localizados fora da Federação da Rússia.
Recebemos saudações de vários países. O Presidente da 76ª Sessão da Assembleia Geral da ONU e Ministro dos Negócios Estrangeiros das Maldivas, Abdulla Shahid, publicou nas redes sociais uma mensagem em vídeo em que destacou a beleza e o lirismo da língua russa, tendo salientado o seu papel como língua oficial da ONU.
Este ano, apesar da campanha de discriminação sem precedentes levada a cabo pelo Ocidente coletivo para "cancelar a cultura" da Rússia, a tradição de realizar eventos comemorativos foi mantida. Existe um bom ditado que diz: "o cão ladra e a caravana passa". Por exemplo, no âmbito do projeto "Professor Russo no Estrangeiro", mais de 200 escolas do Vietname, Quirguizistão, Mongólia, Sérvia, Tajiquistão e Uzbequistão realizaram aulas de língua e literatura russas, visitas guiadas, eventos temáticos, seminários e conferências para professores e para aqueles que estão a fazer cursos de pedagogia. A Delegação Permanente da Federação da Rússia junto da UNESCO ofereceu uma recepção por ocasião do Dia da Língua Russa.
Na Rússia, as comemorações foram precedidas de uma série de eventos comemorativos. Nos dias 24 e 25 de maio, o Instituto de Língua Russa Aleksander Pushkin, realizou, sob os auspícios da Comissão da Federação da Rússia para a UNESCO, a 2ª Edição do Fórum Kostomarov, que reuniu 4.000 participantes online de 86 países. Mais de 300 pessoas participaram presencialmente. Entre os dias 5 e 7 de junho, o Instituto realizou palestras temáticas, leituras de poesia russa clássica por estudantes estrangeiros do Afeganistão, Vietname, Congo, Sudão e outros países na Praça Vermelha e na Praça Pushkin, bem como a apresentação de um estudo intitulado "Índice da Presença da Língua Russa na CEI".
Outro importante evento de literatura das últimas semanas foi a 8ª Edição do Festival do Livro "Praça Vermelha" que decorreu entre 3 e 6 de junho. Cerca de 400 editoras de 60 regiões russas apresentaram os seus livros na praça principal do país. O número de visitantes ultrapassou o nível pré-pandémico de 2019 e atingiu 28.000.
Resumo da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: Nos últimos dias, os titulares de diferentes ministérios dos BRICS têm realizado intensas reuniões, estando igualmente em curso os preparativos ativos para uma Cimeira dos BRICS prevista para o final de junho. Como a senhora avaliaria o papel internacional dos BRICS nas atuais circunstâncias complicadas?
Maria Zakharova: O reforço da parceria estratégica dos BRICS é uma das prioridades da política externa da Rússia.
A cooperação multifacetada entre os países membros não depende da situação política global, baseando-se nos princípios da abertura, pragmatismo, solidariedade, consenso, continuidade e respeito mútuo como princípio fundamental. Importa salientar que a nossa cooperação não tem por objetivo prejudicar ninguém e tem uma agenda positiva. Os BRICS é um grupo inclusivo e aberto à interação com qualquer parceiro construtivo.
Face ao agravamento dramático das tensões internacionais, os cinco países devem agir como guardiões de um verdadeiro multilateralismo baseado num diálogo igual e respeito mútuo, atitude coletiva para com as questões globais da atualidade e um saudável equilíbrio de interesses. Muitos países estão a falar de multilateralismo, enquanto os BRICS aplicam este princípio na prática, trabalhando para criar uma arquitetura global policêntrica e mais democrática e representativa, baseada no direito internacional.
Apoiamos as prioridades da cooperação identificadas pela presidência chinesa e ajudamos a concretizá-las. Quanto aos preparativos para a 14ª Cimeira dos BRICS, gostaria de salientar que os cinco países têm no seu curriculum conquistas notáveis. Lançaram o Centro de I&D de Vacinas dos BRICS, começaram a implementar o acordo de cooperação em matéria de sensoriamento remoto da Terra, concretizam a Estratégia para a Parceria Económica do BRICS 2025 e a Estratégia Antiterrorismo, desenvolvem a Plataforma de Cooperação em Investigação Energética BRICS. Esperamos que o apoio dos nossos amigos chineses nos permita avançar na elaboração de um memorando de entendimento proposto pela Rússia sobre a regulamentação de produtos médicos e de um sistema integrado de alerta precoce para a prevenção de riscos de doenças infeciosas em massa. Todas estas questões são o imperativo da época.
Pergunta: A 4 de junho, entrou em vigor o sexto pacote de sanções contra a Rússia. Que consequências pode este pacote ter para a economia russa e para a economia mundial? Que contramedidas está Moscovo a planear tomar?
Maria Zakharova: Comentei um pouco este assunto. Comentamos regularmente este assunto. A 3 de junho deste ano, o Conselho da União Europeia adotou outro pacote de restrições unilaterais contra a Rússia que são ilegítimas do ponto de vista do direito internacional. Inclui, entre outras coisas, restrições à importação de petróleo bruto e de alguns produtos petrolíferos com origem na Rússia, a desconexão de outros três bancos russos do sistema internacional SWIFT e a suspensão das emissões na UE dos canais de televisão russos Rossiya RTR / RTR Planet, o Rossiya 24 e o TV Centre - International.
Obviamente, a unidade na aplicação de sanções contra a Rússia e o apoio às «iniciativas" de Washington na vertente russa é, de facto, um fator determinante para a União Europeia que não calcula sequer as consequências das restrições para a economia global e para as economias dos países comunitários. Ninguém tem o direito de afirmar que o golpe que eles próprios poderiam sofrer ao adotar estes pacotes seria demolidor e que se teria podido pelo menos calcular as consequências das sanções para os países da UE. Mesmo isto não lhes é permitido. Primeiro tomam "pomposamente" decisões e só depois começam a analisar eventuais prejuízos das suas decisões. Quando os seus cidadãos começam a exigir explicações, representantes de aparência estranha entram no palco para lhes contar histórias da carochinha de que a culpa disso é da Rússia: alta de preços da gasolina, fontes de energia e de bens de consumo generalizado. Todavia, este esquema não funciona mais do que duas vezes. As pessoas começam a compreender toda a mecânica destas ações e que toda a estratégia é de autoria de Washington e foi dada a Bruxelas como instrução a cumprir. Bruxelas convoca reuniões (na realidade, turbas), que se realizam esporadicamente, para debater e aprovar as sanções sem ter em conta os seus próprios interesses. Como resultado, a UE leva um golpe de bumerangue. Esta é a estratégia ao estilo de Bruxelas.
As novas sanções da UE irão, de uma forma ou de outra, afetar a nossa economia e a situação económica global. Como mostra a experiência, a economia e a comunidade empresarial russas aprenderam a mobilizar-se face às medidas restritivas impostas pelo Ocidente e a adaptar-se à situação. Já vivemos nestas condições há muito tempo. Talvez isto seja novidade para algumas pessoas. Para nós, esta situação não é nova e mantém-se há muito tempo.
Tudo isto cria problemas para nós e nos obriga a procurar soluções que acabam sempre por ser encontradas. Esta não é a nossa escolha. Temos explicado durante muitos anos a perniciosidade e a absoluta ineficácia desta abordagem. Agora estamos a ver o efeito destrutivo desta lógica. Há muito tempo que falamos também da natureza suicida da política da UE.
Como disse o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, na reunião sobre questões económicas de 7 de junho, a Rússia conseguiu controlar a inflação, o desemprego está em mínimos históricos, o país regista dinâmicas positivas na agricultura e na construção civil.
A economia russa começou a adaptar-se à difícil situação atual e está a vencer as provações, embora tenha pela frente muito trabalho por fazer.
Temos dito repetidamente que a política de sanções do Ocidente é a sua iniciativa estratégica, uma política de longa data (pois tudo isto foi decidido há muito tempo e é aplicado por fases contra o nosso país). No período pós-pandémico são necessárias ações concertadas da comunidade internacional com vista à solução de problemas globais e não medidas irrefletidas e irresponsáveis da União Europeia, que estão a agravar a já difícil situação em termos de segurança alimentar e energética no mundo. Na verdade, a consolidação dos esforços era necessária já no período de pandemia, o que, porém, não chegou a acontecer. Este, talvez, é um problema sistémico da comunidade ocidental.
Advertimos várias vezes os nossos vizinhos da UE de que nos reservamos o direito de tomar medidas de retaliação contra a UE. Estas medidas não são irrefletidas ou emocionais. Elas visam defender os nossos interesses e neutralizar o efeito destrutivo das sanções ilegítimas contra o nosso país.
Verifica-se que as nossas medidas de retaliação são eficazes. Prova disso é que, no meio de apelos para elaborar novas e novas restrições contra a Rússia, há quem diga, cada vez com maior frequência, que a política de sanções da UE contra a Rússia atingiu o seu limite e é ineficaz e não cumpriu nenhum dos objetivos fixados pelo "Ocidente coletivo". No futuro, os danos de medidas anti-russas serão, por definição, maiores para a UE do que para a Rússia. Isto é óbvio.
As nossas contra-acções forçadas de natureza económica contra os países da UE são cuidadosamente calibradas e dirigidas exclusivamente contra países hostis. Os respetivos atos jurídicos da Federação da Rússia (estão disponíveis, pode vê-los) permitem realizar os ajustamentos necessários das medidas tomadas no interesse do desenvolvimento socioeconómico do nosso país e dos nossos parceiros mais próximos. Continuaremos a ser guiados por estes princípios na conceção da nossa reação às restrições da UE.
Pergunta: A Rússia vê sinais de uma cisão no Ocidente quanto à forma como a operação especial da Rússia na Ucrânia deve terminar? Em caso afirmativo, tenciona a Rússia tirar partido deste desacordo?
Maria Zakharova: O curioso é que não seja a primeira vez que ouço dizer que a Rússia tem tentado constantemente dividir o Ocidente para aproveitar os frutos da sua divisão. Abordemos esta situação de forma um pouco diferente: não houve nenhuma unidade no Ocidente.
Hoje li uma declaração de um estadista ocidental e lá me deparei com o termo "solidariedade voluntária". A solidariedade não pode ser voluntária ou involuntária. A menção deste termo mostra que aquilo a que no Ocidente se chama agora solidariedade era, em princípio, uma coisa completamente involuntária e artificial. A solidariedade não pode ser violenta. Foi exatamente isto que vimos - como foram organizadas à força e por meio de chantagem alianças para demonstrar uma espécie de "unidade" nas suas fileiras. A isto chamava-se "solidariedade". Assim que são feitas tentativas óbvias de pressionar, forçar e levar todos a um denominador comum, não se trata de solidariedade, mas da falta de unidade. Não havia nem há necessidade de dividir o Ocidente, ele não está unido.
Se estamos a falar, em princípio, sobre se deveria haver tal unidade nas fileiras quando se trata de democracias e das suas alianças, cada país deveria ter a sua própria visão. Há um processo de negociação diplomática para isso. A sua tarefa é a de unir. Mas isso não significa a falta de unidade inicial, nem dá o direito de utilizar técnicas que conduzam a uma solidariedade "involuntária". Estas são coisas totalmente diferentes. Sempre professámos a abordagem de que cada Estado tem o direito de ter uma política externa e interna, uma economia, etc. Os Estados podem unir-se voluntariamente, numa base de respeito mútuo. Se quiserem unir-se segundo um princípio diferente, esta deve ser a sua decisão. Quaisquer questões relacionadas com a subordinação dos seus interesses nacionais devem ser solucionadas voluntariamente. A recusa em prosseguir a sua própria política nacional só pode ser voluntária. Um país pode abdicar de parte da sua soberania por considerar isso vantajoso. Ou seja, não ter forças armadas próprias, alinhar a uma aliança militar para se defender, pois, isso é-lhe mais vantajoso e lhe permite redirecionar os fundos para outras necessidades, para o desenvolvimento interno. Se esta decisão é voluntária e esta é a visão do seu povo e passou pelos procedimentos legais, referendos, então não há nenhum problema. No caso do Ocidente, porém, vemos o contrário.
Veja-se o que se passa na Suécia e na Finlândia. Países onde até mesmo a questão da mudança do sentido de circulação de veículos foi submetida a um referendo nacional. Hoje em dia, ninguém se interessa pela opinião da população sobre uma questão tão importante como a mudança da "posição" do seu país no mapa mundial em termos geopolíticos. Nem inquéritos à opinião pública são realizados, pois se sabe quais serão os resultados. Não temos vontade de "dividir" ninguém nem tirar proveito disso, porque não há necessidade de o fazer. No Ocidente não há nenhuma unidade. O que existe é o ajuntamento criado a mando de Washington.
Posso citar um exemplo para ilustrar a unidade e a divisão. O fechamento do espaço aéreo em torno da Sérvia para impedir as conversações russo-sérvias em Belgrado. A Sérvia, que se expressou empenhada em integrar-se com a União Europeia e está a avançar nessa direção, quer negociar com a Rússia. Porquê? Porque coopera com o nosso país em muitas questões. Todavia, está impedido de fazê-lo devido à pressão dos países vizinhos, da NATO e da UE. O que é que Washington está a dizer? Os EUA, na minha opinião, deveriam pelo menos ter-se mantido em silêncio sobre este assunto e deveriam ter dito que se tratava de um assunto europeu e que os europeus deveriam resolvê-lo sozinhos. Este assunto não tem ligação direta com a NATO, certo? Pelo menos, ninguém falou sobre isso publicamente. O que é que Washington diz? O porta-voz do Departamento de Estado diz que a Sérvia não deve agora concentrar-se nas negociações com a Rússia, deve concentrar-se totalmente na política que conduz Belgrado a Bruxelas para que nada a desvie da sua trajetória rumo à UE e à NATO. Onde fica Washington e onde fica a Europa? Onde fica Belgrado e onde fica Bruxelas? Onde fica a Rússia? O que é que os EUA têm a ver com isto? Este é um exemplo concreto. Onde está aqui a unidade que queremos dividir? Não fizemos absolutamente nada. Respondemos ao convite do lado sérvio para uma visita, reunimos uma delegação, reservámos um voo. Foi tudo o que fizemos. Eles fizeram tudo o resto. Quanto mais avançam as coisas, mais os EUA demonstram a falta de unidade no Ocidente. Porque é que estão a fazer isto? Não sei, talvez eles gostem.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, falou sobre isto muitas vezes em entrevistas, em conferências de imprensa e em artigos. Aconselho-o a dar uma vista de olhos. Tudo está disponível no nosso sítio web.
Pergunta: Vladimir Putin disse que a Rússia está pronta a ajudar na retirada de cereais dos portos ucranianos e explicou como isto pode ser feito. O Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, parece ter compreendido isto à sua maneira, a julgar pelo seu discurso na ONU. Vassili Nebenzia até saiu da reunião do Conselho de Segurança da ONU. A senhora poderia explicar para quais fins concretos Moscovo mantém relações oficiais com Bruxelas? Porque é que precisamos da União Europeia?
Maria Zakharova: Porque é que precisamos da União Europeia? A UE existe simplesmente para si própria. Foi criada com base em determinados princípios e engloba países que acharam necessário juntar-se a ela. É por isso que não somos membros da UE.
Há muitos anos que construímos, de forma sincera e pragmática, relações para solucionar questões, minimizar custos e desenvolver uma cooperação mutuamente vantajosa em diversas áreas. Infelizmente, os nossos esforços que têm dado frutos foram bloqueados pelo Ocidente, e não pelos povos europeus, mas pela "liderança de Bruxelas", que está totalmente "sob o domínio de Washington". Porquê? Porque é um "pesadelo" para os EUA ter uma coexistência pacífica e mutuamente benéfica e eficaz no continente europeu, porque, neste caso, não poderá ter uma vantagem competitiva nem "pescar em águas turvas", não haverá nenhum domínio norte-americano. O século XXI é marcado por uma lógica assustadora: " divide para reinar". Quer dizer, traz o caos, tenta dominar.
Tomámos decisões pragmáticas que eram necessárias para os nossos interesses nacionais. Gostaria de recordar que a UE foi concebida como Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Com o tempo, começou o processo de integração em outras áreas que resultou na transformação da Comunidade no Conselho Económico Europeu e depois na União Europeia com uma moeda comum. Tudo parecia bem, até ao momento em que alguém em Washington não gostou que a Europa crescesse economicamente e tivesse uma moeda forte e o seu próprio sistema energético independente. Pode imaginar o que significa para um "país tão profundo" como os EUA ver que a Europa é autónoma em termos de abastecimento energético, tem recursos energéticos no seu subsolo e tem tecnologias para extrai-los e transportá-los para qualquer parte da Europa e regiões adjacentes. Neste caso, os EUA ficariam de fora. Aparentemente, não podiam permitir-se uma situação assim, porque não tinham outra vantagem competitiva senão a possibilidade de causar caos. Assim, tudo foi feito, como agora entendemos, para transformar a UE de um sistema de integração económica independente no braço económico da NATO, a fim de destruir os laços e vibrar um golpe sobre todo o conjunto de unidade europeia que temos visto.