15:23

Resumo do briefing realizado pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 20 de outubro de 2022

2170-20-10-2022

Sobre a crise ucraniana

 

Os países da NATO continuam a fornecer armas e munições ao regime de Kiev, como se competissem entre si, a conceder-lhe informações, a treinar os seus soldados e a orientá-lo nos combates, chegando assim bem perto da perigosa linha de confronto militar direto com a Rússia. De acordo com números atualizados publicados na semana passada pelo Instituto de Kiel para a Economia Mundial, a ajuda militar total prestada pelo Ocidente totaliza 42,3 mil milhões de dólares. Destes, mais de metade (28,3 mil milhões de dólares) é da responsabilidade do principal patrocinador do regime de Kiev, os EUA, que não têm a mínima intenção de parar por aqui. No passado dia 14 de outubro, os EUA anunciaram uma nova tranche de 725 milhões de dólares para a Ucrânia.

Isto quando os países bálticos aprovaram uma pilha inteira de documentos em condenação ao alegado "patrocínio" do terrorismo por parte do nosso país. Enganaram-se no destinatário, devendo dirigir a si próprios toda esta "papelada" aprovada pelos países bálticos. Praticando atividades terroristas extremistas, matando civis, destruindo infraestruturas, ameaçando de perseguição aqueles que se opõem às posições nacionalistas, os países e regimes que disponibilizam avultados montantes e fornecem armas ao regime de Kiev são doadores, patrocinadores e apoiantes desta atividade terrorista extremista. Existe uma boa expressão para resumi-lo: "quem se pica, alhos come". É por isso que os países da NATO não se cansam de acusar outros países para desviar a suspeita de si próprios. Eles não são apenas cúmplices dos crimes do regime de Kiev, mas aqueles de quem falam regularmente nas suas declarações, ou seja, patrocinadores das atividades terroristas praticadas sob a égide do regime de Kiev e com a participação direta da NATO e dos seus países membros individuais sob o comando dos EUA. Os europeus estão a tentar seguir os seus "irmãos maiores", os norte-americanos. Os países da UE e as instituições europeias comuns já desembolsaram 8,6 mil milhões de dólares. Mais do que isso, a 17 de outubro, os seus ministros dos negócios estrangeiros aprovaram a criação de uma missão de assistência militar da UE à Ucrânia. A missão será instalada dentro de um mês e deverá formar mais de 15.000 militares ucranianos de diferentes níveis em dois anos. Orçada em cerca de 107 milhões de euros, esta iniciativa vai de mãos dadas com o fornecimento de armas letais ao regime de Kiev e aumenta qualitativamente o envolvimento da UE, tornando-a parte no conflito.

A 12 de outubro, a sexta reunião do chamado Grupo de Contacto de Defesa da Ucrânia no formato Rammstein realizada em Bruxelas decidiu sobre o fornecimento de sistemas modernos de defesa antiaérea ao regime de Kiev. Além disso, de acordo com os militares dos EUA, serão entregues à Ucrânia quase 1.500 sistemas de defesa antiaérea portáteis Stinger. No total, desde o início da operação militar especial,  os países da NATO enviaram ao regime de Vladimir  Zelensky pelo menos 300 tanques, 130 veículos de combate de infantaria, 400 veículos blindados de transporte de pessoal, 450 veículos blindados, 700 sistemas de artilharia, incluindo lançadores múltiplos de foguetes e morteiros, cinco mil sistemas portáteis de defesa antiaérea e 80 mil sistemas de mísseis antitanque e lança-granadas, 160 mil unidades de armas ligeiras, 800 mil munições de artilharia, 90 milhões de cartuchos.

Depois de tudo isto, os governos da União Europeia pediram aos seus cidadãos que economizassem nos banhos e no aquecimento das suas casas porque não sabem como proporcionar-lhes aquecimento e conforto. Sabemos para que é que este dinheiro é utilizado. Agora os cidadãos destes países da UE também sabem.

Podemos dizer com certeza que boa parte destas armas já acabou ou acabará, em breve, no "mercado negro", cujo volume de negócios mensal de contrabando excede mil milhões de dólares. As remessas militares da NATO destinadas ao regime de Kiev acabam nas mãos de terroristas, grupos extremistas e criminosos do Médio Oriente, África Central e Sudeste Asiático. Temos vindo a falar sobre isto desde o início. Como sempre, não nos acreditaram, foi-nos dito que estávamos a exagerar e que o problema não estava nisso. Não, é exatamente nisso que reside o problema. Agora a comunidade mundial vê-se confrontada com isto. Tanto políticos como a opinião pública, jornalistas estão bem cientes disso. Peritos independentes e estruturas especializadas, incluindo a Interpol e a Europol, expressam há muito receios sobre a afluência ilegal de armas com origem na Ucrânia.

Se juntarmos os protestos em massa por causa da retirada dos países da UE da sua zona de conforto, a crescente circulação de armas no "mercado negro" e o problema dos migrantes que têm vindo a afluir aos países da UE nos últimos anos e que não só não são controlados pelas autoridades locais como também são impossíveis de calcular, veremos que a Europa enfrenta um cenário deprimente. Quem irá resolver estes problemas nos países da UE? Vemos todos os dias na televisão as pessoas responsáveis pelas políticas de Bruxelas. Elas não inspiram nenhuma confiança, antes uma preocupação com a sua capacidade de analisar e com a sua saúde mental. Não obstante, todos continuam a permanecer com os "olhos fechados" pondo em risco a segurança dos seus próprios cidadãos.

A situação na Ucrânia continua a deteriorar-se. Os direitos humanos estão a ser aí violados em grande escala, e a discriminação e perseguição por motivos políticos, étnicos, linguísticos e religiosos atingiram proporções muito amplas. Ouvimos dizer que isto se deve às "ações" de Moscovo. Não, não é só isso. Como dissemos, trata-se de uma praga que se propaga independentemente da lógica e do bom senso e abrange todos os escalões de poder do regime de Kiev, se espalhou e ultrapassou há muito os limites da russofobia.

Como sabem, as autoridades da cidade de Mukachevo, na Transcarpátia, decidiram demolir o monumento húngaro "Turul" no dia 13 de outubro deste ano. Este monumento não é soviético e não deveria causar "azia antissoviética" ao regime de Kiev, nem está sujeito à campanha de descomunização. Foi erguido em 2008 com o dinheiro de um empresário norte-americano de origem húngara e representa um símbolo mitológico e heráldico: a águia, que, segundo a lenda do regresso a casa, conduziu as tribos húngaras nómadas ao território da Hungria moderna. Parece que não havia nada com o que se preocupar. Mas o que é que acham que os nacionalistas colocaram no lugar da águia? A imagem do tridente ucraniano.

O regime de Kiev não deixa de demonstrar desprezo pelos interesses de minorias nacionais, embora não possa dizer "minoria nacional" em relação aos russos em território ucraniano. Isto está para além do bom senso, dados tanto os indicadores quantitativos como a história partilhada. No entanto, algo semelhante é praticado em relação às outras nacionalidades: a rejeição da possibilidade (até teórica) de uma minoria étnica radicada no território da Ucrânia ter uma mentalidade, história, filosofia diferentes das do regime de Kiev: tudo deve estar sob o domínio do Tridente ucraniano. Ele quer dominar tudo: não tanto unir como destruir e exaltar-se em cima do destruído. Desta feita, procedeu deste modo em relação ao monumento húngaro. É um exemplo ilustrativo e simbólico. Estes são novos tempos: países ocidentais, dinheiro. Foi feito com o consentimento das autoridades ucranianas. Esta foi a sua decisão soberana. Alguma coisa não correu bem? Sim. A partir de agora, as coisas correrão deste modo. Tudo o que não agradar ao regime nacionalista e neonazi de Kiev será destruído pelo Tridente. O regime de Kiev demonstrou sempre, está a demonstrar e continuará a demonstrar o seu desrespeito pelos interesses de quaisquer minorias desta forma. Isso não lhe interessa. Esta é vingança pelas decisões que serão tomadas, caso estas não estejam de acordo com os pontos de vista e interesses das altas patentes do regime de Kiev.

Como sabem, no dia 17 de outubro, houve outra troca de prisioneiros de guerra, 110 de cada lado. Entre aqueles que regressaram à Rússia encontravam-se 72 marinheiros civis que tinham sido feitos reféns pelo regime de Kiev desde o início da operação militar especial. Estavam mantidos em condições desumanas e proibidos de deixar os seus navios que se encontravam retidos nos estaleiros da cidade de Izmail, na Região de Odessa. A Rússia usou todos os meios ao seu alcance para conseguir a sua libertação, tendo levantado esta questão junto das estruturas da ONU e da Cruz Vermelha. Este assunto foi objeto de inúmeras negociações com representantes da comunidade internacional. Um dos marinheiros infelizmente não chegou a viver até à sua libertação. Sublinho que estamos a falar de civis que foram retidos à força pelo regime de Kiev.

 

Sobre os resultados da reunião de Ministros da Defesa da NATO

 

Os Ministros da Defesa da NATO reuniram-se nos dias 12 e 13 do corrente mês de outubro. Esta reunião é outra demonstração do desejo irreprimível dos aliados da NATO de fomentar o confronto no continente europeu.

Foi decidido continuar a prestar assistência militar ao regime de Kiev. A preparação das unidades armadas ucranianas para o inverno e o reforço da defesa antiaérea e antimíssil do regime de Kiev dominaram a pauta da reunião no formato Rammstein realizada à margem do evento. Bruxelas tem a intenção de continuar a encher a Ucrânia de armas e encorajá-la a uma guerra prolongada. O "Ocidente coletivo" não se importa que isto cause inevitavelmente o aumento do número de vítimas. Este é um dos seus objetivos. Washington e Bruxelas continuam a afirmar hipocritamente que não são parte no conflito. Citei hoje os números. Eles falam por si. As verdadeiras ações do "Ocidente coletivo" evidenciam o contrário.

Esvaziando os depósitos de armas nos países membros da aliança para apoiar o regime de Kiev, o Ocidente resolve o problema de encomendas para a indústria de guerra norte-americana. Como se diz, uma guerra traz males para uns e riquezas para outros. Sabemos quem ganha o "bónus". É a "ala" incansável do establishment político interno dos EUA, que, durante muitos anos, fomentou a situação na Ucrânia no interesse de empresas e corporações norte-americanas e não do povo ou do Estado norte-americano.

Na reunião, os ministros da defesa concordaram em continuar a reforçar o "flanco oriental" da aliança e em aumentar a sua presença no Mar Báltico e no Mar do Norte para defender (o que soa particularmente cínico) as infraestruturas críticas após os ataques ao Nord Stream 1 e ao Nord Stream 2.

Interessa salientar que há apenas seis meses eles disseram, pela voz do Presidente dos EUA, Joe Biden, e por intermédio do Departamento de Estado norte-americano, que era vantajoso para eles destruir estas instalações e tudo fazer para garantir que o Nord Stream 1 e o Nord Stream 2 não existissem mais. Agora, depois da sabotagem e explosões nos gasodutos supracitados, eles reúnem-se para dizer que pretendem defender o gasoduto. Esperem. Têm de se definir. Acho que qualquer verdade, mesmo não aceite pela comunidade internacional, é melhor do que uma tergiversação sem fim. Vós próprios (membros da NATO) dissestes que poríeis fim ao Nord Stream 1 e ao Nord Stream 2 custasse o que custasse. O Presidente dos EUA, Joe Biden, disse isto em fevereiro passado. Os funcionários do Departamento de Estado disseram isto perante as câmaras. De quem irão proteger agora o Nord Stream? Dos EUA? Então devem declarar sem rodeios que a reunião dos ministros da defesa da NATO em Bruxelas decidiu defender os Nord Stream 1 e 2 contra Washington. Falta uma palavra. Acrescentem-na. 

O exercício de dissuasão nuclear da NATO, com o nome Steadfast Noon, iniciado a 17 de outubro, aumentam as tensões nestas circunstâncias. O nome da operação deixa-nos pasmados. O ponto importante é que a maioria dos países atraídos para a operação tem um estatuto desnuclearizado. Há muito que os EUA encorajam os referidos países a utilizar armas nucleares, violando assim os princípios fundamentais do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Alegando que se trata de um exercício regular planeado há muito tempo, a cúpula da Aliança está a tentar acusar Moscovo de "retórica nuclear irresponsável". Ótimo! Tais manobras estão longe de conferir uma maior estabilidade à situação atual no continente europeu.

Nestas circunstâncias, as declarações retumbantes sobre a natureza supostamente defensiva da Aliança são nada mais nada menos palavras ocas. A desescalada e o reforço do sistema de segurança na Europa continuam a estar fora das prioridades da NATO.

 

Sobre o relatório da Comissão de Inquérito sobre as Violações dos Direitos Humanos na Ucrânia

 

A 18 de outubro, a Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre as Violações dos Direitos Humanos na Ucrânia, criada por uma resolução antirrussa do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas adotada em março passado, publicou o seu primeiro relatório. Gostaria de lembrar que a Rússia não reconhece este organismo.

Não reproduzirei tudo o que é mencionado nesta obra. Estes "documentos" reduzem a nada a essência das instituições da ONU e do Conselho dos Direitos Humanos, em particular. Não se pode preocupar com os direitos de uma pessoa isolada ou de um grupo de pessoas sem compreender o que está a acontecer em princípio e quantas pessoas estão a sofrer porque o Ocidente tem vindo a fomentar o conflito na Ucrânia durante anos, tornando-se agora um comparsa direto das atividades criminosas do regime de Kiev.

Desde que a Comissão foi criada, não temos tido ilusões sobre os seus objetivos, encarando-a como mais uma instituição de propaganda nas mãos do "Ocidente coletivo". Não tínhamos dúvidas de que esta estrutura tinha sido criada para exercer pressão sobre a Rússia, para propagar informação falsa, para desacreditar as forças armadas russas, e para inocentar e elogiar o regime de Kiev por todos os meios. Foi por estas razões que nos recusámos imediatamente a contactar com a mesma.

O conteúdo e o tom do relatório da Comissão apenas confirmaram a nossa opinião de que este mecanismo é tendencioso e não é autónomo. Não duvidamos que o relatório da Comissão foi redigido sob o ditado dos seus supervisores ocidentais. Os seus autores não se preocuparam sequer em fazer com que a sua obra parecesse imparcial e equilibrada. Numa vã tentativa de se fazer passar por peritos imparciais, os autores do relatório mencionaram de passagem que "nalguns casos, as forças armadas ucranianas violaram o direito humanitário internacional, incluindo dois incidentes que se qualificam como crimes de guerra". Em "alguns casos" houve duas violações e no resto dos casos, tudo estava muito bem. Isso porque se trata do regime de Kiev que é apoiado pelos EUA e que absorveu mais de 40 biliões de dólares norte-americanos e um monte de armas de todos os tipos, inclusive as que foram proibidas para o uso pelos próprios regimes ocidentais que censuram aqueles que as utilizam. Ficou deselegante. O regime de Kiev é bom para com o seu povo, não há problemas. Põe em circulação vídeos com as execuções de prisioneiros de guerra e torturas de civis. Não liguem, é uma democracia "jovem" e ainda não atingiu o nível de cinismo inerente à "velha" democracia. Do ponto de vista desta lógica, aparentemente, algo pode ser perdoado.

Estes "documentos" são uma prova das atividades criminosas do "Ocidente coletivo" e do ideal da democracia que não termina dentro das fronteiras nacionais. Este princípio democrático deve também aplicar-se às relações internacionais. Ao contrário disso, o “Ocidente coletivo” escravizou muitas estruturas e organizações internacionais, fazendo-as servir os seus fins e interesses que, porém, estão longe de ser nobres e visam a capitalização dos seus próprios recursos, capacidades e tudo o que lhe está relacionado em busca de benefícios com vista à sua multiplicação até atingir os limites cósmicos ou ultrapassá-los.

Sabemos muito bem o preço das "provas" fabricadas com as tecnologias políticas e mediáticas ocidentais já ensaiadas.

O principal fornecedor de informação para este tipo de obras, nomeadamente a Missão das Nações Unidas para a Monitorização dos Direitos Humanos na Ucrânia, estabelecida em 2014 como resultado de acordos bilaterais entre o regime de Kiev e o então Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, também se desacreditou completamente. Escusado será dizer que boa parte do seu pessoal é constituída por ucranianos contratados localmente, cujas opiniões e preferências políticas são sobejamente conhecidas. Assim, este pessoal é o principal fornecedor de "notícias sensacionalistas". Do mesmo modo, colocaram numa situação embaraçosa uma relatora especial da ONU, que fez declarações sobre a utilização de estimulantes nas Forças Armadas russas. Esta notícia correu o mundo. Muitas pessoas deixaram de confiar nestas instituições da ONU após ver o que o "Ocidente coletivo" lhes está a fazer e como as está a enganar e como as está a utilizar para espalhar a desinformação.

Por um lado, o "Ocidente coletivo" faz os possíveis para demonstrar a sua determinação em combater notícias falsas e desinformação e em verificar os factos. Por outro lado, utiliza instituições e organizações internacionais para espalhar a desinformação.

É sintomático que a Comissão faça vista grossa aos crimes cometidos pelas unidades armadas ucranianas e pelos batalhões nacionalistas contra a população civil do Donbass, das Regiões de Kherson e de Zaporojie, nem aos intensos bombardeamentos realizados todos os dias pelos ucranianos contra áreas povoadas e infraestruturas civis com o uso de lançadores múltiplos de foguetes, peças de artilharia de grande calibre, munições de fragmentação e das tristemente célebres minas-borboleta. No entanto, verifica-se que tudo isso não interessa à Comissão, pois, segundo o seu pessoal, não há provas, apesar de o Representante Permanente da Rússia junto da ONU (o CDH faz parte da família da ONU) ter demonstrado fragmentos destas minas na sede da ONU. Aparentemente, não tiveram tempo para puxar o filme para trás para voltar a ver as fotografias. A Comissão também não quis qualificar as táticas de uso de civis como escudos humanos e colocação de peças de artilharia pesada e posições de tiro em locais civis muito em voga nas unidades armadas ucranianas nem outras violações maciças do direito humanitário internacional e dos direitos humanos.

Como resultado, muitos civis, crianças e mulheres, são feridos, mutilados e mortos todos os dias. No entanto, a vida e os direitos destas pessoas não interessam à Comissão.

 

Sobre a decisão de Portugal de enviar helicópteros de combate a incêndios de origem russa à Ucrânia

 

Gostaria de recordar que a decisão de Lisboa violará os compromissos, assumidos pelo governo português na hora de comprar os helicópteros, de não os transferir para ninguém sem o consentimento da Rússia. Este compromisso não tem um período fixo de validade. A Rússia não deu o seu consentimento. Além disso, o envio dos helicópteros em causa à Ucrânia não visa combater os incêndios.

Instamos os nossos colegas a retomarem o bom senso e a absterem-se de passos que possam desacreditar completamente Portugal como parceiro confiável e apagar as páginas da nossa cooperação mutuamente vantajosa e, anteriormente, mutuamente respeitosa.

 

Resumo da sessão de perguntas e respostas:

Pergunta: Os Ministros dos Negócios Estrangeiros da UE acordaram a criação de uma missão de assistência militar à Ucrânia (EUMAM Ucrânia). Em comunicado, o Conselho da UE afirma que "o objetivo da missão é ajudar a reforçar a capacidade militar das Forças Armadas ucranianas para realizar eficazmente operações militares com vista a defender a integridade territorial da Ucrânia dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas, exercer eficazmente a sua soberania e proteger os civis". Poderia comentar a decisão do Conselho da UE e os objetivos proclamados?

Maria Zakharova: É verdade que, a 17 de outubro deste ano, foi anunciado em Bruxelas o lançamento de uma missão de treino militar para o treinamento de militares ucranianos pelos países da União Europeia. Escusado será dizer que a decisão tomada pela União Europeia é aventureira e perigosa e coloca os países membros da UE na linha para além da qual eles se tornam parte no conflito. Ao tomar esta decisão, os dirigentes dos países europeus que se declararam dispostos a participar nesta missão reconhecem-se dispostos a ser comparsas dos crimes de guerra das Forças Armadas ucranianas e dos batalhões nacionalistas.

Enquanto isso, o Ocidente continua a fornecer ao regime de Kiev armas letais. Naquele mesmo dia, os Ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia concordaram em atribuir mais 500 milhões de euros, no âmbito do Fundo Europeu para a Paz (que cinismo!), para a compra e envio de armas, equipamento militar, uniformes, etc. para a Ucrânia. Usando as armas fornecidas pelo "fundo para a paz", as Forças Armadas ucranianas continuam a matar civis, a destruir casas, hospitais, jardins de infância e escolas e ameaçam atacar infraestruturas críticas, em particular a central nuclear de Zaporojie. Devido à corrupção desenfreada nos escalões políticos e militares ucranianos, estas armas acabam no "mercado negro", de onde são contrabandeadas não só para os "focos de tensão" como também de volta para os países da União Europeia onde caem nas mãos do crime organizado, extremistas e terroristas.

Em vez de procurar uma resolução política das crises e reforçar a segurança, Bruxelas já investiu mais de 3 mil milhões de euros para apoiar uma "solução militar" para o conflito ucraniano, que eles próprios têm vindo a provocar durante anos através de golpes anticonstitucionais, interferência nos assuntos internos e construção de uma democracia ucraniana a seu critério. Proclamando os seus slogans geopolíticos hipócritas, os líderes da União Europeia estão a criar no governo nazi de Kiev a falsa ilusão de que a vitória pode ser alcançada "no campo de batalha". Investem montantes inéditos para prolongar o confronto armado (sem se aperceberem que estes investimentos os estão a aproximar do colapso), dizem quererem prejudicar os interesses da Rússia, prejudicando, porém, o bem-estar dos seus cidadãos.

Os protestos em curso nas capitais europeias demonstram a crescente insatisfação e relutância dos europeus comuns em pagar do seu bolso estas políticas míopes. Nem todos eles são levados às ruas por elevados ideais da paz. Eles não querem aceitar as declarações dos seus governos sobre a necessidade de financiar à sua custa iniciativas semelhantes. Eles estão longe de fazer conclusões políticas, mas não querem mais participar nisso, mas não têm outras opções porque nunca ninguém lhes perguntou.

Dando continuidade às alusões de Josep Borrell, chefe da diplomacia europeia, só podemos constatar que as "ervas daninhas" venceram no "jardim" europeu e ameaçam não só o ecossistema dos seus vizinhos com a sua influência malévola, mas também o futuro da fauna civilizada na sua casa. Creio que, ao proferir esta frase, Josep Borrell gravou em letras douradas o seu nome na história das relações internacionais. Isto é algo que estará sempre com ele.

Pergunta: Hoje em dia há muita informação sobre manifestações e protestos na Europa relativamente a preços, recursos energéticos e sanções antirrussas. O que é que as nossas embaixadas reportam? Qual é a sua impressão?

Maria Zakharova: Não é necessário fazermos comentários a este respeito. Por enquanto, ainda nos permitem ver o que está a acontecer nos belos "jardins" da União Europeia com os nossos próprios olhos e não cortaram as emissões a partir daí. Pode ver tudo com os seus próprios olhos.

Segundo os líderes da Comissão Europeia, o atual elevado nível de bem-estar nos países da UE e a competitividade das suas economias baseavam-se, em grande parte, em recursos energéticos baratos provenientes da Rússia. Josep Borrel, jardineiro-chefe da União Europeia, disse-o sem rodeios durante o seu discurso em Bruxelas, a 10 de outubro deste ano.

Nas atuais circunstâncias, quando os fornecimentos da Rússia foram significativamente reduzidos devido aos esforços do Ocidente (e podem ficar comprometidos devido à política do Ocidente para o nosso país), os cidadãos comuns da Europa sentiram na sua pele as consequências da política de sanções míope e da posição tendenciosa do Ocidente em relação à situação na Ucrânia. Muitos eram apolíticos, alguns apoiavam a política do "Ocidente coletivo", outros simpatizavam connosco. Agora todos sentiram. Protestos em várias capitais europeias foram uma reação natural (não estou a julgar se são legítimos, esta questão não é connosco, é com aqueles países) dos cidadãos à queda do nível de vida. A ameaça ao sistema de desenvolvimento económico, programada por algum tempo adiante, foi causada pela política antirrussa das elites governantes. Os cidadãos da UE compreendem que aquilo a que foram levados não se deve a causas objetivas e que tudo isso é obra de seres humanos, dos seus responsáveis governamentais, da burocracia europeia, dos governos dos seus países, tudo isso foi feito sob a direção dos EUA e dos titulares de cargos europeus pró-norte-americanos. A ideia principal é uma narrativa russofóbica centrada nos interesses económicos, políticos e outros de Washington. Este "cocktail" bizarro tem sido "servido" aos cidadãos da UE durante anos. Dizia-se que era uma "cura", mas acabou por se revelar um veneno. Isto colocou-os num estado de choque absoluto. Advertimos.

Os ministros da defesa da NATO debateram como iriam defender os gasodutos Nord Stream 1 e Nord Stream 2. Contra quem? Contra eles próprios? É o seu território, é a sua área de responsabilidade e segurança.

São as suas alianças militares que dominam em todos os lugares, inclusive nos países que delas não fazem parte. Têm tudo sob o seu controlo. Contra quem pretendem defender? Contra os mergulhadores do EI que atuam nas águas suecas?

Foi a Rússia que propôs um projeto conjunto de construção de dois gasodutos, mutuamente vantajoso, para fornecer energia à Europa. Fizemos tudo o que pudemos para os pôr a funcionar. Perguntaram-me muitas vezes nesta sala se irão funcionar. Eu respondi que faríamos tudo o que estivesse ao nosso alcance. E assim fizemos, não obstante as críticas e ações inamistosas de que fomos alvo. A União Europeia falhou na sua parte do projeto sob pressão dos EUA, motivada por uma posição antirrussa. De facto, revelou-se que assumira uma posição antagónica em relação aos interesses dos seus cidadãos.

As proporções e as características dos protestos em cada país dependem da sua situação política e socioeconómica. Não gostaria de comentar isso. Esta é uma questão puramente interna de cada país.

Incorrect dates
Advanced settings

Last