Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova Moscovo, 31 de janeiro de 2024
Ponto da situação na crise da Ucrânia
O regime de Kiev continua a cometer crimes sangrentos contra civis em cidades russas, utilizando armas fornecidas por países ocidentais.
A 29 de janeiro deste ano, os neonazis ucranianos voltaram a atacar barbaramente o densamente povoado bairro de Kalininski da cidade de Donetsk com lançadores múltiplos de foguetes. Quatro pessoas foram mortas e outras 16 ficaram feridas.
Naquele mesmo dia, a aldeia de Novodrujesk (República Popular de Lugansk) foi alvo de um ataque de artilharia, tendo duas raparigas da escola ficado feridas.
Nos dias 27 e 28 de janeiro, as forças armadas ucranianas bombardearam a cidade de Novaia Kakhovka, matando uma pessoa e ferindo duas.
Ultimamente, os nazis ucranianos começaram a atacar pessoas desarmadas com drones carregados de munições.
A 28 de janeiro, lançaram impiedosamente uma granada contra uma família com duas crianças num mercado no bairro de Kirovski da cidade de Donetsk. O pai ficou gravemente ferido.
Naquele mesmo dia, três mulheres e um homem ficaram feridos num ataque com um drone ucraniano na vila de Shakhti Abakumova.
A 25 de janeiro, os nazis ucranianos mataram cinicamente uma mulher na vila de Lozovaia Rudka, na região de Belgorod, lançando uma bomba sobre ela a partir de um quadricóptero.
A 28 de janeiro, um operador de escavadora ficou ferido num ataque com um drone na localidade de Kolotilovka.
A 27 de janeiro, os militantes ucranianos atacaram deliberadamente com drones veículos de voluntários na cidade de Novaia Kakhovka, ferindo gravemente uma mulher de 70 anos.
De acordo com o governo da República Popular de Donetsk, as forças armadas ucranianas intensificaram os ataques com drones ao Mosteiro de Dormição Nikolo-Vasilievski, perto de Ugledar. Este mosteiro, onde vivem várias dezenas de monges, é regularmente bombardeado cinicamente pelos ucranianos. A 29 de janeiro, um padre ficou ferido num bombardeamento realizado pelo lado ucraniano. Não há dúvida de que os nazis ucranianos estão a agir de forma consciente e deliberada. O operador do drone vê e compreende perfeitamente a quem o está a dirigir - quer se trate de um blindado ou de uma família de civis a fazer compras num mercado.
Todas estas atrocidades estão a ser cuidadosamente registadas pelas autoridades policiais russas. Os envolvidos serão certamente identificados e levados à justiça. A justiça russa continua a processar militantes ucranianos que cometeram crimes graves contra civis, com base nas provas recolhidas pelo Comité de Investigação da Rússia.
O neonazi ucraniano V. Tkachuk, que ordenou o fuzilamento de dez civis em Mariupol na primavera de 2022, dos quais oito foram mortos, foi condenado a prisão perpétua.
O elemento do batalhão nazi Azov V. Dachkovski que ordenou o fuzilamento de um civil em Mariupol em abril de 2022 foi condenado à revelia a 25 anos de prisão.
A uma pena semelhante foi condenado à revelia o militante ucraniano V. Palamarenko, que matou a tiro um civil em Mariupol, em março de 2022, cumprindo uma ordem criminosa de um oficial superior.
Nenhum dos criminosos ucranianos poderá escapar ao castigo. Todos os criminosos serão identificados e responsabilizados em toda a extensão da lei.
A corrupção maciça é, desde há muito, um ex-líbris do regime de Kiev. A Ucrânia tornou-se um dos líderes mundiais em quantidade de estrondosos escândalos de corrupção de alto nível. Os chefões do regime de Volodimir Zelenski estão envolvidos neste processo. Tudo "gira" em torno do Ministério da Defesa do país. Isso não é apenas selvagem, é sacrilégio, dadas as declarações dos elementos do regime de Kiev na cenário internacional de que precisam de mais dinheiro, recursos e armas ocidentais. Simultaneamente, tudo isso é imediatamente "absorvido" pelo processo de corrupção. No outro dia, o Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) informou que tinha descoberto um novo desvio de fundos no Ministério da Defesa ucraniano, no valor de 40 milhões de dólares, durante a compra de munições.
De acordo com informações dos meios de comunicação social ucranianos e das redes sociais, não é somenos corrupção se verifica em organizações de voluntários aquando da distribuição de ajuda humanitária estrangeira. É menos sacrílego? Tornou-se comuns os casos em que os bens rotulados como "não para a venda" (ou seja, ajuda humanitária fornecida à Ucrânia pelos patrões ocidentais da Ucrânia e outros países para ser distribuída entre os necessitados) aparecem em lojas, plataformas de comércio virtual e noutros locais. Acontece que o aviso "não para a venda" já não embaraça ninguém. Na ausência de um controlo adequado, o voluntariado na Ucrânia transformou-se num grande negócio corrupto.
A corrupção desenfreada na Ucrânia é um motivo de preocupação e irritação crescente para os EUA. Informações do gênero nas vésperas das eleições são comprometedoras. A 29 de janeiro, três inspetores-gerais representando o Pentágono, o Departamento de Estado e a Agência para o Desenvolvimento Internacional dos EUA chegaram a Kiev para, pelo menos, chamar à ordem os seus pupilos. Os inspetores tencionam realizar uma série de reuniões com funcionários ucranianos para " aumentar o controlo" sobre a utilização da ajuda dos EUA. De que tipo de controlo se pode tratar se a "ajuda" norte-americana se espalhou por todo o mundo? Armas fornecidos à Ucrânia pelo Ocidente acabaram no Médio Oriente. E, mais importante, com quem eles pretendem reunir-se? Com aqueles que praticam corrupção na Ucrânia há anos? Quem vai exercer o controlo? Com quem pretendem debater esse assunto? Com pessoas que estão em contacto direto com a Casa Branca, tendo-se em conta as "maroteiras" dos Biden na Ucrânia?
A UE, segundo o deputado europeu M. Wallace, silencia os factos da corrupção generalizada do regime de Kiev. Segundo ele, a UE está a fechar os olhos ao facto de o Tribunal de Contas Europeu ter reconhecido a Ucrânia como país extremamente corrupto. Esta é uma realidade terrível que agora não está a ser comentada nos meios de comunicação social ocidentais que só publicam materiais isolados para que a Casa Branca informe os seus potenciais eleitores sobre a forma como está a trabalhar com o regime de Kiev para prevenir a corrupção na Ucrânia. No entanto, já não se trata de prevenir a corrupção, o país descamba num inferno de corrupção. Os meios de comunicação ocidentais não publicam, por enquanto, investigações a este respeito. Esta é uma questão para o futuro.
Washington tem intensificado ultimamente os seus esforços para procurar em todo o mundo armas de fabrico soviético e russo para enviá-las para a Ucrânia. Recentemente, os meios de comunicação social gregos noticiaram que os EUA estão a tentar persuadir Atenas a entregar a Kiev sistemas de defesa antiaérea e munições russos, prometendo, em troca, fornecer à Grécia veículos de combate de infantaria, fragatas e outras armas obsoletas, bem como 200 milhões de dólares, o que, de acordo com especialistas gregos, não é suficiente para comprar sequer um sistema de defesa antiaérea de fabrico ocidental.
O regime de Kiev considera como algo devido os esforços norte-americanos para colmatar a escassez de armas na Ucrânia e insiste cada vez mais em que os EUA não abandonem o regime de Kiev à sua sorte. O regime de Kiev, pressentindo o inevitável colapso, que se está a acelerar com o fim da assistência dos EUA e da UE, chantageia abertamente os seus patrões ocidentais, descrevendo-lhe as eventuais "consequências terríveis" da derrota militar do regime de Volodimir Zelenski. Os líderes ucranianos não acham que a destruição do Estado ucraniano e a morte de cidadãos do seu país sejam "consequências terríveis". No seu entender, só têm de vir. Antes de mais, assustam os europeus com a ameaça mítica de "invasão russa" de um território significativo dos países do Velho Mundo.
Nas últimas semanas, figuras políticas e públicas da NATO e de países da União Europeia influenciados por Washington começaram a comentar ativamente esta questão, salientando a necessidade de preparar uma guerra ou um conflito com a Rússia, ou uma outra volta de tensão, etc. Os cidadãos da UE estão horrorizados com esta retórica e estão a tentar perceber do que é que se trata. Trata-se apenas de uma coisa (mas isso não lhes será dito) - que é necessário lhes tirar os últimos cêntimos para ajudar o regime de Kiev, porque Washington disse que agora não tem tempo para fazê-lo, enquanto os países da NATO devem definitivamente fazê-lo. E os países da NATO deveriam definitivamente fazê-lo. Para justificar o seu desejo maníaco de tirar os últimos cêntimos para financiar o regime de Kiev, os ocidentais põem em circulação uma série de novos mitos assustadores de que uma guerra no continente europeu é inevitável.
Mais uma vez, gostaríamos de apelar aos países do "Ocidente coletivo", em primeiro lugar e acima de tudo à União Europeia: se eles falam individualmente ou durante eventos no âmbito da NATO de tais coisas, devem dizer que este é o seu ponto de vista e a sua intenção. Não devem, de modo algum, atribuir as suas fantasias doentias e esta ideologia ao nosso país.
Ao mesmo tempo, o regime de Kiev não pensa sequer no futuro, o que é típico dele. A 29 de janeiro, numa entrevista à holding de media alemã ARD, Volodimir Zelenski apelou a Berlim para que deixasse de pagar subsídios aos refugiados ucranianos e transferisse os fundos destinados a esses fins para a ajuda às forças armadas ucranianas, ao regime de Kiev, etc. Traçou o futuro dos ucranianos que tinham emigrado para a Alemanha, especialmente os que estavam em idade de mobilização - recomendou insistentemente que regressassem para pagar a sua dívida ao regime de Kiev e, ao mesmo tempo, começassem a pagar impostos ao tesouro ucraniano. Este já não é cinismo, é pura e simplesmente satanismo.
Evidentemente, o gangue de Kiev não se contenta com a pilhagem da Ucrânia e a venda total das suas riquezas naturais. Continua a delapidar o património cultural, histórico e religioso. Se não tem pena dos seus próprios cidadãos, por que razão há-de ter pena de valores culturais e históricos? Mas este património é da nação. Há dias, os meios de comunicação social norte-americanos noticiaram que, em maio de 2023, 16 ícones ortodoxos raros foram secretamente exportados para França. Alguns deles estão em exibição no Louvre, enquanto os outros estão guardados nos cofres do museu. Já comentámos este assunto (1, 2, 3). O regime de Kiev não está a dizer isto ao seu povo. Não se pode excluir que estas relíquias tenham sido retirados do Mosteiro de Kiev-Pechersk e de outras catedrais da Igreja Ortodoxa Ucraniana. Pilhando o património acumulado e protegido pela Igreja Ortodoxa Ucraniana, o regime de Kiev retira-lhe igrejas, atira sacerdotes para a rua ou mete-os na prisão. Falamos muito sobre os crentes e o rebanho. No entanto, os materiais e provas que podem ser vistos nos museus ocidentais "a olho nu" permitem-nos começar a dizer que o regime de Kiev está a saquear não só o Estado ucraniano como também organizações, instituições e comunidades que não são propriedade do Estado.
O regime de Kiev não tem o direito de os atacar. Não obstante, está a utilizar ferramentas de toda a espécie para saquear e roubar tudo o que tem valor. Todo o mundo sabe muito bem quão importantes e valiosas são as igrejas da Igreja Ortodoxa Ucraniana. Era um local de peregrinação de todo o mundo.
As pilhagens estão a ocorrer durante ataques das autoridades e dos cismáticos da "Igreja Ortodoxa da Ucrânia" por elas apoiados. Esta estrutura pseudo-ortodoxa e pseudo-religiosa foi criada não só para destruir a vida do rebanho ortodoxo no território da Ucrânia, mas também para se tornar um instrumento e uma arma para saquear relíquias e valores materiais.
Estas relíquias não pertencem ao regime criminoso de Volodimir Zelenski, estabelecido em Kiev, são relíquias ortodoxas de todo o mundo. Surge a questão de saber se não terão o mesmo destino do ouro cita pertencente aos museus da Crimeia russa e transferido pelas autoridades neerlandesas para a Ucrânia, ao arrepio das obrigações contratuais e das normas de cooperação entre museus.
Todos os factos acima referidos - desde a utilização de armas pesadas contra civis das nossas cidades e a corrupção total até às tentativas intrusivas de obter ajuda ocidental e ao roubo trivial de bens alheios - são provas óbvias do pânico que se apoderou do agonizante regime de Kiev após o estrondoso fracasso da famigerada "contraofensiva" e as ações bem sucedidas das forças armadas russas.
Gostaria de salientar que os objetivos da operação militar especial: desnazificar e desmilitarizar a Ucrânia e eliminar as ameaças que emanam do seu território são relevantes. Como disse a liderança russa, todos eles serão atingidos.
Resumo da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: Um relatório divulgado recentemente pelo Departamento de Estado dos EUA mostra que, no ano fiscal de 2023, as exportações de armas dos EUA aumentaram quase 56%, incluindo o apoio militar à Ucrânia, atingindo um recorde de 880 mil milhões de dólares. Ao mesmo tempo, o Secretário-Geral da NATO deslocou-se aos EUA para pedir ajuda militar para a Ucrânia e afirmou que, sem ela, todas as conquistas obtidas seriam reduzidas a nada. Quererá isto dizer que, apesar de o conflito Rússia-Ucrânia se arrastar há quase dois anos, os EUA e a NATO continuam a não ter nenhuma intenção de promover uma solução para a crise ucraniana através de meios políticos como negociações e continuarão a apoiar a Ucrânia nesta guerra de atrito?
Maria Zakharova: No espaço euroatlântico surgiu um cargo especial. Chama-se "Alto Representante da Casa Branca para a política externa da União Europeia". O seu nome é Josep Borrell. Esta pessoa ocupa atualmente este cargo. De facto, devido à sua contribuição pessoal, ao seu carisma e ao seu poder intelectual, este cargo surgiu.
Na minha opinião, o alto representante formulou com extrema exatidão as posições das elites euro-atlânticas russofóbicas. Josep Borrell afirmou que seria mau se a Rússia e a Ucrânia fizessem as pazes. Aqui está a resposta a todas as perguntas. Já não fala da necessidade de resolver o conflito no "campo de batalha". É uma ideologia profunda formulada por eles do seguinte modo: seja o que for que esteja a acontecer, seja qual for a fase histórica que chegue, sejam quais forem as circunstâncias, seja quem for que tenha razão ou seja culpado, sejam quais forem as consequências de tudo isto, não será bom, como disse Josep Borrell, se a Rússia e a Ucrânia fizerem as pazes. Devemos ter isso em conta. Também há que compreender que esta posição não é dos povos, dos países da UE, é da Casa Branca e Downing Street consagrada nos documentos da NATO e "enviada" aos países da UE como dogma.
A crise na Ucrânia foi inteiramente inspirada por Washington e os seus satélites. E não foi em 2022 que deram a ordem ao regime de Kiev para intensificar os bombardeamentos de civis. Como resultado, receberam uma resposta correspondente dos habitantes das regiões que estavam a ser bombardeadas. Os anglo-saxões provocaram esta situação durante muito tempo, construindo-a e formando um novo quase-Estado.
O que está a acontecer agora na Ucrânia é mais uma tentativa de manter o domínio geopolítico do "Ocidente coletivo". Este é o seu projeto para demonstrar as suas "capacidades". Há casas fáceis de montar. Os ocidentais querem demonstrar as suas capacidades para criar Estados fáceis de montar. Tudo isto acabou por ruir.
Agora estão a ser "traçados" paralelos entre o confronto com a Rússia e o poderio crescente da China. Ouvimos muitas declarações a este respeito. Durante a sua viagem à capital norte-americana, o Secretário-Geral da NATO, Jens Stoltenberg, insistiu em ser necessário apoiar o regime de Kiev, porque, como disse, "hoje é a Ucrânia, amanhã pode ser Taiwan". Porquê? Porque é que se estabelecem estes paralelos? Porque é que a população da China e, aliás, também de Taiwan, está agora a ser intimidada? O que é que os EUA estão a fazer entre as duas partes da China? Evidentemente que estas partes não precisam de uma terceira roda, pois constituem um país único.
Até à data, o "Ocidente coletivo", que trava uma guerra híbrida contra a Rússia, não demonstra nenhuma disponibilidade para resolver politicamente o conflito na Ucrânia e pretende lutar "até ao último ucraniano". No confronto com a Rússia, atribui ao regime de Kiev o papel de executor para infligir (como costumavam formular) uma "derrota estratégica" ao nosso país. Atualmente, este conceito, segundo eles, tornou-se obsoleto. Ao aperceberem-se das realidades, passaram a dizer que "não podem permitir que vençamos".
De acordo com a lógica perversa de Jens Stoltenberg, o caminho para a paz na Ucrânia é continuar a enviar armas para o regime de Volodimir Zelenski. É ao que os EUA chamam um bom "investimento" que permite a Washington e aos seus aliados travar uma guerra híbrida contra o nosso país sem arriscar a vida dos seus próprios soldados.
Para além disso, na sua opinião, é um "bom negócio" para os EUA (afinal, todos os seus "negócios são bons"). Só nos últimos dois anos, os europeus assinaram contratos no valor de 120 mil milhões de dólares com a indústria de guerra dos EUA. Só nos últimos dois anos, como acabaram de ouvir, a economia pacífica (economia de cooperação) falhou na parte ocidental do continente europeu. Ouviram os dados da UE fornecidos pela sua própria agência de estatísticas. Para quem nos EUA tem uma lógica doentia, este é, de facto, um bom negócio, pois mostra como se pode, de forma lucrativa, retirar empresas dos países da UE, reforçar a sua própria indústria de guerra, destruir a economia pacífica da UE que já estava em vias de construção com base na interação no formato euro-asiático através da cooperação energética e logística. Para os ucranianos comuns, que estão a ser enviados para a morte pelos fantoches de Kiev, a mando de Washington, este não é um bom negócio.
Da nossa parte, temos afirmado repetidamente que os nossos oponentes (como costumávamos chamar-lhes, agora chamamos-lhes países hostis) devem fazer os seus negócios (não estou a falar de um diálogo, mas exatamente de negócios) com base no princípio da segurança igual e indivisível, ter em conta os interesses e preocupações não só do nosso país, mas também de outros países.