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Resumo do briefing realizado pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 27 de outubro de 2022

2213-27-10-2022

Serguei Lavrov participará na Conferência Mundial "Cooperação Económica: Compatriotas e Regiões Russas. Respondendo aos Desafios da Atualidade"

 

Como informei no último briefing, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, participará numa conferência temática mundial organizada pela comunidade russa sob os auspícios da Comissão Governamental para as Comunidades Russas e subordinada ao tema "Cooperação Económica: Compatriotas e Regiões Russas. Respondendo aos Desafios da Atualidade". A conferência terá lugar em Moscovo nos dias 1 e 2 de novembro próximo.

Este é um grande evento anual realizado de acordo com a Lei Federal nº 99-FZ, de 24 de maio de 1999, "Da Política de Estado da Federação da Rússia para as Comunidades Russas no Estrangeiro" no período entre congressos mundiais de comunidades russas. O último congresso teve lugar em outubro de 2021 em Moscovo. Muito nos apraz ver que a melhoria da situação epidemiológica nos permite retomar o regime presencial de eventos.

O presente fórum contará com a participação de mais de 140 empresários, dirigentes e ativistas de comunidades russas de 84 países, além de representantes das autoridades legislativas e executivas federais e regionais, fundações e organizações não governamentais russas.

A conferência terá duas sessões plenárias subordinadas aos temas "O Mundo Russo e os Desafios da Atualidade", "Regiões Russas e Comunidades Russas: Aprofundando a Cooperação Comercial e Económica", e quatro secções temáticas: "Turismo: Tendências e Oportunidades nas Condições Atuais"; "TI e Pequenas Empresas: Novos Desafios e Horizontes"; Jovens Compatriotas como Motor do Desenvolvimento Socioeconómico numa Época de Mudança"; e "O Direito à Defesa: Negócios na Rússia e no Estrangeiro. Destas, duas, dedicadas ao turismo e às tecnologias de informação, serão organizadas nas instalações de produção localizadas no Parque de Exposições "VDNKh".

 

Serguei Lavrov recebe homólogo da Índia

 

O Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, recebe, a 8 de novembro próximo, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da República da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, que se encontrará em Moscovo com Dmitry Manturov, Vice-Primeiro Ministro russo e Ministro da Indústria e Comércio, que copreside, do lado russo, à Comissão Intergovernamental Rússia-Índia de Cooperação Económica, Comercial, Tecnológica, Científica e Cultural.

Os Ministros dos Negócios Estrangeiros passarão em revista o estado das relações bilaterais e as questões internacionais.

 

Sobre a crise ucraniana

 

O Conselho de Segurança da ONU debateu, a 25 de outubro, em Nova Iorque, a situação relacionada com o plano do regime de Kiev para usar uma “bomba suja” no próprio território. Na reunião convocada a pedido da Federação da Rússia, os representantes russos apresentaram argumentos que mostram claramente a seriedade do referido problema. Já salientámos no nosso comentário de 24 de outubro que o objetivo da provocação concebida pelas autoridades ucranianas e os seus supervisores ocidentais é responsabilizar a Rússia pelo alegado uso de armas de destruição em massa e organizar uma poderosa campanha antirrussa para minar a confiança no nosso país.

Gostaria de lembrar àqueles que duvidam disso a declaração de Vladimir Zelensky dirigida à NATO de que esta "não deve esperar e deve desferir um golpe preventivo" sobre a Rússia. Quando todos prestaram atenção a esta declaração monstruosa que chocou até os apoiantes do regime de Kiev, Vladimir Zelensky disse que fora mal interpretado e que ele se referiu a golpes económicos. Sabemos bem do que se trata. De alguma forma devem ser um ato preliminar ou uma resposta aos ataques nucleares de outro país. Tratava-se do seu desejo de iniciar um confronto nuclear. Esta mórbida ambição já não pode contentar-se com as destruições causadas pelo regime de Vladimir Zelensky ao seu país, à região e ao mundo em geral. Esta postura requer um sacrifício ainda maior. Agora o Presidente da Ucrânia está a estender as suas mãos em busca de armas nucleares. Felizmente, ele não as tem.

Em 2014, políticos e figuras públicas, e olhem, liberais disseram em uníssono, após ver as coisas horrendas que aconteceram na praça de Maidan e nas ruas de Kiev onde não havia nenhum soldado russo, nenhuma pessoa que fosse associada à Rússia, apenas cidadãos ucranianos, mercenários, militantes de países ocidentais que tinham sido treinados com dinheiro ocidental nos Países Bálticos e na Polónia: que sorte que este país que é governado por esta gente e usa tais métodos para derrubar o seu próprio governo não dispõe de armas nucleares.

Aparentemente, não faziam então ideia de até onde uma ambição desenfreada, generosamente financiada e apoiada com entregas de armas, podia ir. Agora querem não apenas armas nucleares, o que Vladimir Zelensky exigiu ao usar da palavra na Conferência de Segurança de Munique, em fevereiro passado. Manifestam-se dispostos a utilizar a tecnologia nuclear a seu critério. É uma chantagem nuclear a um novo nível. O regime de Kiev está a mostrar aos seus patrocinadores (a dupla anglo-saxónica de Washington-Londres, Bruxelas e todos aqueles que o apoiaram política, militar e financeiramente) que, se não continuarem e a ajudá-lo, ele porá em ação o "plano B".

O Ministério da Defesa russo explicou o que era o "plano B" do regime de Kiev, citando factos concretos num briefing especial. Os nossos militares declararam sem rodeios, inclusive através do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da nossa Missão Permanente junto da ONU, a preocupação da Rússia que deveria ser partilhada pela comunidade internacional, sobretudo pelos patrocinadores do regime de Kiev que decidiu continuar a sua ideologia destrutiva a um novo nível.

Há uma prova indireta (embora eu pense que já é direta) disso: durante vários meses, o regime de Vladimir Zelensky bombardeou a Central Nuclear de Zaporojie. Não se importava de estar a bombardear uma instalação civil. O que lhe importava era o facto de lá existir energia nuclear. Do ponto de vista do regime de Kiev, os bombardeamentos deveriam ter provocado uma série de acontecimentos e passos do Ocidente que teriam empurrado o mundo para a beira de uma catástrofe nuclear. Foi exatamente disto que o Presidente da Ucrânia tem vindo a falar. Eles precisam de um pretexto. No caso da central, o "pretexto" falhou graças aos esforços do lado russo.

Malogrados nesta vertente, eles passaram à fase seguinte, à criação de uma bomba nuclear "suja". Neste contexto, faço lembrar àqueles que estão agora no Ocidente a dizer oficialmente ou através dos media que não é como "parece" e que o regime de Kiev não tem nenhuma intenção de o fazer, o apelo de Vladimir Zelenski à NATO sobre um golpe nuclear preventivo. Os cidadãos de países ocidentais e não ocidentais, que compreendem o que são a guerra nuclear e a radiação, nunca compreenderão os seus governos se estes quiserem apoiar estas ideias do Presidente ucraniano. Portanto, há que encontrar um argumento para persuadi-los. Vladimir Zelensky arranjou um. Primeiro a central de Zaporojie, agora a bomba "suja". Soltou o segredo. Não sei porquê e em que estado ele se encontrava. Vladimir Zelensky revelou o que estavam a conversar entre si e os seus planos.

Exortamos o Ocidente a influenciar os seus pupilos ucranianos a desistirem desta aventura perigosa e de todas as ações que envolvem uma chantagem nuclear. Isto terá consequências irreversíveis e a possíveis mortes em massa de civis inocentes. Temos explicado regularmente: a radiação não conhece limites geográficos, nem precisa de passaportes, vistos, autorizações. Não pode ser punida com sanções ou impedida de entrar. A radiação é insidiosa. Não pede permissão para entrar e afeta criticamente a saúde e a vida humanas.

Gostaria de chamar mais uma vez a vossa atenção para o discurso de Vladimir Zelensky proferido no dia 6 de outubro no Lowy Institute na Austrália. Ele foi muito claro acerca da possibilidade de uso de uma arma nuclear, olhem, pela NATO e não pela Rússia. Reparem, exortou a Aliança a desferir um golpe preventivo contra o nosso país e a não esperar que a Rússia utilize as suas armas nucleares. Quem pensa que isto "não é como parece", leia o seu discurso.

Porque é que o regime de Kiev precisa disto?  Os responsáveis governamentais ucranianos parecem ter-se posicionado como gente moderna, jovem e orientada para o futuro. Talvez não haja contradição nisso. Eles estão concentrados no seu futuro pessoal. Talvez o regime de Kiev pratique a chantagem nuclear para obter do Ocidente novas e novas parcelas de ajuda financeira (da qual boa parte cai nas suas contas) e militar (para proteger não tanto o povo ucraniano como a si próprios em detrimento da Ucrânia), entre outras coisas. A 25 de outubro, Berlim acolheu uma conferência de peritos sobre a restauração ucraniana. Na véspera do evento, o Chanceler alemão, Olaf Scholz, e a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, haviam publicado um artigo em que apontaram a necessidade de elaborar um "Plano Marshall do século XXI" para a Ucrânia e exortaram a UE, países do G7, instituições financeiras, organizações internacionais e investidores privados a assumirem os gastos da Ucrânia com a restauração nas próximas décadas. Para tanto, sugerem confiscar os ativos russos congelados. Ursula von der Leyen deixou claro que a UE está disposta a financiar a Ucrânia em 2023 e a desembolsar para o efeito 1,5 mil milhões de euros por mês, o que exigiria pelo menos 18 mil milhões de euros. Disse de passagem que, na realidade, as necessidades de Kiev são várias vezes maiores.

As autoridades ucranianas, que não escondem as suas atitudes parasitárias, acolheram-no de bom grado. Na conferência de Berlim, o Primeiro-Ministro ucraniano, Denis Shmygal, disse esperar que o Ocidente criasse um "Rammstein financeiro" para a Ucrânia e que atribuísse prontamente 17 mil milhões de dólares à Ucrânia até ao final deste ano para cobrir as suas necessidades socioeconómicas imediatas.

A julgar pela crescente despesa militar na Ucrânia, é pouco provável que este dinheiro seja gasto em pensões e salários para os ucranianos. Este dinheiro, alegadamente destinado à restauração, é necessário para produzir uma destruição ainda maior. Como já dissemos, o Ocidente concedeu ao regime de Kiev 42,3 mil milhões de dólares em ajuda militar. Destes, mais de metade (28,3 mil milhões de dólares) foi disponibilizado pelos EUA. Recentemente, o Pentágono publicou informação que leva a crer que parte dos referidos fundos foi gasta para fornecer quase um milhão de projéteis de 155 mm para os obuseiros M777, três mil mísseis guiados Excalibur, sete mil mísseis para o sistema antitanque RAAMS e 180 mil projéteis para canhões de 105 mm. No total, mais de 50.000 toneladas de munições de artilharia. Boa restauração da Ucrânia?

No outro dia, o Ministro da Defesa da Ucrânia, Aleksei Reznikov, admitiu numa entrevista ao periódico norte-americano "Politico" que o seu país se tinha tornado - literalmente - "num campo de ensaio de armas ocidentais contra o exército russo". Pela primeira vez esta tese foi expressa sob a forma de uma declaração em que os governantes ucranianos oferecerem o seu país para testes de tecnologias e armas que ainda não foram testadas. Isso quando o mundo "civilizado" até se recusa a testar cosméticos em animais. No entanto, do ponto de vista do regime de Kiev, não há nada de mau em testar armas em cidadãos ucranianos. Como exemplo, Aleksei Reznikov citou a utilização de obuses da NATO pelas Forças Armadas ucranianas. Na sua opinião, os fabricantes militares ocidentais estão literalmente a competir entre si para "ver qual deles se revelará mais eficaz no campo de batalha". É o que ele diz sobre o seu país. É normal?

Tenho lido muitos documentos e visto crónicas em vídeo a descrever as ações de extremistas e terroristas. Infelizmente, também temos de saber isto. Estes usaram bombas de fabrico caseiro ou industrial contra aqueles a quem consideravam inimigos da humanidade, do seu país ou da sua ideologia. Mas nunca as usaram contra os seus concidadãos, nunca as testaram naqueles que pensavam ser do seu país. Nos anos 2010, após a "Primavera Árabe", pela primeira vez na história da humanidade, surgiu um "fenómeno" como o EI, um grupo terrorista e extremista que afirmava pretender estabelecer o seu próprio estado. Tinha dinheiro, símbolos de Estado, como os entendia, e pretendia criar um califado. Naquela altura costumávamos dizer que o mundo não tinha visto nada semelhante antes.

O que o regime de Kiev está a fazer agora é também algo inédito. Por mais horríveis que fossem os monstros, os assassinos de crianças do passado, nunca se ofereceram para testar armas nos seus concidadãos, que estavam a defender o seu país. Não se trata sequer das pessoas as quais eles segregaram (por motivos étnicos, linguísticos, religiosos) em "boas" e "más", e pedem que isso seja feito contra estas últimas. Querem usar as pessoas "boas" como cobaias. Não conheço nenhum análogo no mundo. Houve guerras civis, confrontos políticos que resultaram em conflitos internos prolongados, o mundo viu muita coisa, mas nunca viu que alguém sugerisse testar obuses nos seus concidadãos. "Os nossos aguentarão tudo", é esta a lógica do regime de Kiev.

Assistimos a uma situação curiosa e, ao mesmo tempo, tenebrosa: as autoridades e os círculos empresariais dos EUA e da UE, ignorando a opinião das suas populações, estão a financiar e a armar o regime de Kiev de cariz nazi, ganhando milhares de milhões de dólares em contratos de produção de armas. Isto anda de mãos dadas com as suas declarações sobre a necessidade de pôr termo ao derramamento de sangue, de entabular negociações, etc, protelando a resolução do conflito e exacerbando a situação económica, inclusive nos países ocidentais. Isto é exatamente o que estes países estão a fazer, embora tenham falado há meses sobre a segurança alimentar. Ao mesmo tempo, os cidadãos europeus estão a ser solicitados pelos seus governos a "apertar os cordões à bolsa" para passar bem nas consequências das sanções antirrussas e pagar pela manutenção da economia ucraniana. Absurdo total. Uma ilogicidade total das ações e declarações.

No meio disso, altos funcionários norte-americanos dizem quase todos os dias que a Rússia não quer negociar. Até publicámos recentemente uma seleção de citações de funcionários do regime de Kiev, Vladimir Zelensky e outros responsáveis governamentais ucranianos, das quais muitas já tomaram forma de lei. Por exemplo, o Presidente ucraniano emitiu um decreto que proíbe qualquer negociação com o nosso país.

Entretanto, de acordo com o Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU, mais de 50 milhões de pessoas em 45 países estão à beira da fome. Este ano, o PAM precisa de 24 mil milhões de dólares para ajudar 153 milhões de pessoas. No entanto, o hiato entre a necessidade e o financiamento é mais amplo do que nunca, de acordo com a organização. Tem isso algo a ver com este problema? Tem. Há alguns meses, Washington dizia que era necessário fazer os possíveis para conseguir alimentos, tendo em vista os necessitados e não aqueles que estavam acostumados a comer bem.

Assim que o " acordo de cereais" foi assinado, os EUA calaram-se. Porquê? De acordo com o PAM, um grande número de pessoas necessita urgentemente de alimentos. Porque é que este tema saiu da ordem do dia? Porque quem ganhou com isso foram as empresas norte-americanas que estavam envolvidas nos fornecimentos de cereais a partir da Ucrânia e não os necessitados que esperavam receber alimentos e não os receberam. Eles promoveram os interesses dos especuladores que utilizaram os cereais ucranianos para obterem enormes lucros e não se importavam com a Ucrânia ou com a Rússia. O objetivo era ganhar dinheiro. Eu estou a falar de números e factos. Estes confirmam que o problema da fome no mundo se agravou durante a pandemia e ganhou ímpeto devido ao conflito na Ucrânia, que, como bem sabemos, se está a progredir devido aos fornecimentos de armas ocidentais àquele país. Entretanto, o Ocidente continua surdo, cego e mudo para as necessidades de mais de 40 países que carecem de alimentos. Ao contrário dos valores proclamados, as "democracias" ocidentais preferem financiar o extermínio de civis na Ucrânia, violando assim o direito básico à vida. Ninguém pensa em canalizar pelo menos alguns por cento das enormes quantias investidas para estimular e prolongar o conflito para aquilo que era tão importante para o Ocidente há alguns meses, ou seja, para a segurança alimentar, para vencer a fome e ajudar os carenciados. Dados os montantes por eles canalizados para a Ucrânia, as suas declarações sobre a necessidade de combater a fome são uma hipocrisia terrível. As estatísticas sobre as exportações de cereais a partir do território ucraniano são outra prova disso.

Outro exemplo da hipocrisia perversa do Ocidente chegou ao nosso conhecimento. A 19 de outubro, o Parlamento Europeu atribuiu o Prémio Sakharov ao "povo ucraniano, representado por Vladimir Zelensky". Ao "honrar" deste modo os representantes do regime criminoso de Kiev, os deputados europeus parecem não compreender o que estão a fazer. Eles podem ter uma ideia muito vaga de quem era Andrei Sakharov, mas certamente não conhecem a sua opinião. Ele disse que via como a Ucrânia podia existir sem a nossa comunidade unida, considerando isso necessário, importante e relevante. Os deputados atribuíram o prémio com o seu nome a um homem que considera as pessoas que lutaram por esta unidade durante muitos anos como "espécies". É difícil acreditar nesta obviedade do inacreditável. Todos os puzzles encaixaram-se num quadro tenebroso. Sempre ocorre uma pergunta: é mesmo possível que isso aconteça? Acontece que isso é possível. Pode ser que algum dos eurodeputados achem possível ler as palavras da pessoa cujo nome deram ao prémio.

Entre os dias 25 e 27 de outubro, realizou-se, em Zagreb, a "cimeira" parlamentar da "Plataforma da Crimeia". Já havíamos dito várias vezes que os eventos enquadrados nesta iniciativa do regime de Kiev sob o lema de "desocupação" da Crimeia têm, a priori, uma conotação russofóbica e ameaçam diretamente a soberania e a integridade territorial da Federação da Rússia. O Presidente Vladimir Zelensky confirmou isso sem rodeios ao dizer que a "Plataforma da Crimeia" deveria dar início à criação de outras plataformas semelhantes para "diminuir a influência russa" na Transnístria e na Abcásia e para devolver os "territórios do Norte" ao Japão. Esse homem tem uma visão muito ampla e não se sente constrangido. Resolveu todos os problemas em casa e está com as atenções voltadas para o Extremo Oriente, pois esta região não conseguirá decidir o que fazer sem Vladimir Zelensky.

Ao organizar este evento, o regime de Kiev e os seus inspiradores, progenitores e patrões mostraram uma vez mais que não querem saber da opinião da população da Crimeia, das instituições e procedimentos democráticos. Quem se importa que tenha havido ali um referendo em 2014? As declarações do regime de Kiev por ocasião do "fórum" de Zagreb são uma prova eloquente disso. Segundo o Secretário do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, Aleksei Danilov, se a central hidroelétrica de Kakhovska for feita explodir (o exército ucraniano não para de bombardeá-la), a Crimeia ficará sem água por 10 a 15 anos ou talvez para sempre. É um estado no centro da Europa. É um dos maiores estados. Sempre se pensou que algo semelhante ao que vimos no Médio Oriente, por exemplo, era impossível lá e que só extremistas e terroristas de terras distantes são capazes de fazer algo do género. O Ocidente fazia-nos crer que os extremistas e terroristas pertencem a uma certa cultura, religião. Era um paradigma imposto. Por isso agora é difícil - por vezes impossível - imaginar o que estamos a ver na realidade. O que estamos a ver é um regime totalmente extremista num Estado europeu. Uma pessoa responsável pela segurança tem o prazer de dizer que uma instalação civil pode ser atacada para cortar o abastecimento de água por 10 a 15 anos. O que mais nos deve acontecer para vermos que o regime de Kiev é extremista? Não é uma prova indireta, não são coisas que exijam prova. É um discurso direto, não ouvido nos bastidores, não recontado, mas reproduzido ao pé da letra.

Só surgiu agora? Não. Muito antes disso, eles colocavam minas nas redes elétricas que abasteciam a Crimeia, cortavam água. A lógica do regime de Kiev tem feito parte das suas ações práticas que têm tido lugar ao longo dos anos. Todos estes factos confirmam mais uma vez que a Rússia está com a posição certa na questão ucraniana e que os objetivos fixados pela liderança russa são importantes e relevantes.

 

MNE russo tem a sua conta nas redes sociais bloqueada após divulgar vídeo sobre as provocações em Bucha, Izium e Kupiansk

 

Esta manhã, uma das plataformas digitais norte-americanas voltou a bloquear a nossa conta em língua inglesa por sete dias. Desta vez o motivo foi um vídeo de dez minutos em inglês que apresenta factos recolhidos pelos nossos peritos sobre as provocações criadas pelo regime de Kiev em Bucha, Izium e Kupiansk. A reportagem continha provas em vídeo e fotografia e entrevistas recolhidas pela Fundação para a Investigação da Democracia, levantando questões desconfortáveis sobre as numerosas falsificações das versões impostas à opinião pública ocidental. Atingidos pela cegueira seletiva, os Grandes Média e blogueiros anglo-saxónicos têm medo ou não estão dispostos a transmiti-los.

A publicação de um vídeo de dez minutos teve consequência o bloqueio por sete dias da nossa conta numa rede social norte-americana. Isso é democracia? É claro que sim. Apenas um país no mundo pode decidir o que é liberdade de expressão e o que é mau para o consumo. Ou podemos admitir que haja materiais, pontos de vista diferentes, abordagens diferentes? Não é em 2022, mas há muitos anos que começámos a fazer estas perguntas.

Em poucos dias, o nosso vídeo teve ampla repercussão pública, ganhou centenas de milhares de visualizações só nessa plataforma. Acham que algo nos foi explicado? Não. Bloquearam a nossa conta sem nos dizer uma só palavra.

A ânsia com que as empresas de TI norte-americanas apagam a verdade sobre as provocações do regime de Kiev mostra uma vez mais que todas elas estão envolvidas. É uma comunidade criminosa com uma estrutura ramificada de apoio político, militar e financeiro que utiliza instituições democráticas para o propósito oposto.

Elon Musk, que comprou esta plataforma e se posiciona como ardente partidário da liberdade de expressão, deveria estar curioso para ver o que acontece. Ele afirmou repetidamente que as redes sociais deveriam ser um lugar que provasse a liberdade de expressão na prática, com o facto da sua existência. Que definição poderíamos dar a este país do outro lado do espelho? O nosso vídeo em si pode ser visto nas nossas outras plataformas, incluindo no canal do Telegram em inglês do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo e nos recursos digitais da Missão Permanente Russa junto da OSCE. Quantas vezes eles vão nos bloquear, tantas vezes vamos repeti-lo e falar disso.

 

Resumo da sessão de perguntas e respostas:

Pergunta: O Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmou que Kiev é independente ao decidir sobre as negociações com a Rússia. Em que medida pensa que esta afirmação corresponde à verdade?

Maria Zakharova:  Vi esta manhã uma notícia de que o chefe da fação do partido Liga no Senado italiano, Massimiliano Romeo, disse que o regime de Kiev não deveria tomar sozinho todas as decisões sobre o futuro da Ucrânia. A comunidade internacional também deverá ter um papel a desempenhar, tendo em mente os interesses do seu país. Eis o que ele disse: "É um pouco difícil ouvi-lo dizer: 'Serão os ucranianos a decidir'. Claro que temos de respeitar a vontade dos ucranianos, mas seria melhor dizer que a comunidade internacional tomará a decisão no interesse da Ucrânia". Compreendo que se trata de uma declaração de um partido político.

O senhor citou o Presidente do Conselho Europeu, ele está a ocupar um cargo oficial e possui certa autoridade. Isso é por falar das divergências dentro do "Ocidente consolidado", unido apenas por dois fatores - a russofobia imposta aos países integrantes e o seu medo de ser alvo de medidas punitivas. Na verdade, eles não compreendem como avaliar o que está a acontecer, como planear ou construir um futuro.

Terá o regime de Kiev uma autonomia ao decidir sobre as negociações? Não. O regime de Kiev não tem autonomia nem capacidade de chegar a acordos. O regime de Kiev está a ser utilizado no interesse de Washington, Londres. Os países ocidentais mencionados procuram materializar os seus interesses com a ajuda do regime de Kiev e dos políticos ucranianos. O regime de Kiev tem uma lógica extremista. Hoje falei um pouco sobre isto. Os representantes do regime de Kiev estão a tentar demonstrar a sua lealdade aos seus supervisores. É uma história clássica de como o Ocidente criou monstros que depois tentaram acertar contas com os seus criadores. Conhecemos um grande número de exemplos. Osama bin Laden, "carne da carne" do mundo ocidental, estudou lá, foi financiado e ali ideológica e materialmente "processado". Um fundamento especial foi construído para usá-lo. A certa altura, tornou-se inimigo "número um" para aqueles que o criaram. Tendências também se verificam neste caso. O regime de Kiev não tem nenhuma independência no que se refere aos interesses nacionais da Ucrânia. Os que agora estão à frente do país não chegaram ao poder de uma forma democrática, mas após uma série de golpes de Estado. Fingem ser pessoas orientadas democraticamente, na realidade não o são.

Não formularam uma resposta à procura pública na sociedade ucraniana, porque é multifacetada, multidimensional, multiétnica, multiconfessional. Eles seguiram uma política imposta externamente no seu país e em fóruns internacionais.

Basta recordar as negociações russo-ucranianas em fevereiro e março passados. Pararam em abril passado. As autoridades ucranianas fingiram que esta era a sua iniciativa. Ouvimos tais afirmações. Participaram em três rondas cara-a-cara na Bielorrússia. A 29 de março, em Istambul, assinaram um documento que continha os contornos de futuros acordos. O lado ucraniano trabalhou neles durante numerosas reuniões virtuais, matando ao mesmo tempo os seus negociadores. Este processo também foi interrompido. Eles não responderam às propostas russas de 15 de abril passado. É óbvio que fizeram isto a mando dos seus supervisores anglo-saxónicos que acompanharam de perto as negociações e que obviamente tinham objetivos diferentes aos de alcançar a paz. Eles estavam envolvidos numa história diferente, visando a escalada do conflito.

Anteriormente, uma situação semelhante tinha ocorrido várias vezes no processo de Minsk no Grupo de Contacto e no formato Normandia. Todos se lembram do escândalo na cimeira do formato Normandia em Paris, em dezembro de 2019. Naquela altura, Zelensky recusou-se a aceitar o documento final previamente acordado e insistiu em substituir a disposição referente à retirada das forças ao longo de toda a linha de contacto por uma cláusula sobre a retirada em apenas alguns setores.

Esta lista de provas é praticamente interminável. Isso confirma que o Ocidente nunca esteve interessado na paz na Ucrânia, que tudo isto é um terrível conglomerado de interesses ocidentais com a mecânica do regime de Kiev. Os supervisores ocidentais sempre repreenderam rudemente as autoridades de Kiev quando se registaram progressos nas negociações, primeiro com as repúblicas do Donbass sobre os acordos de Minsk e depois com a Rússia. Washington nunca fez segredo do facto de manter o dedo no pulso, é extremamente sensível aos acordos de Minsk e ao formato Normandia do qual não faz parte. Também sempre dissemos que compreendíamos que eles bloqueavam o trabalho do regime de Kiev dentro dos formatos acima mencionados. Quando se patenteava algum progresso, os EUA entravam no palco para colocar as suas condições. A hipótese de acordos de paz assusta os ocidentais, antes de mais os anglo-saxões, que hoje proíbem o regime de Kiev de negociar e exigem a continuação das hostilidades até ao "fim vitorioso".

Quanto à União Europeia e aos países comunitários, as suas ações e declarações apenas prolongam o confronto armado. Estes países, em detrimento dos interesses dos seus cidadãos e da segurança interna, fornecem armas ao regime de Kiev, reforçando o seu sentimento de permissividade e impunidade. Eles já estão a receber estas armas de volta através do mercado negro. A liderança ucraniana encara esta conivência como "carta branca" para continuar a matar civis, bombardear casas e infraestruturas civis. Da mesma forma, os países da UE, principalmente a Alemanha e a França, fecharam, durante muitos anos, os olhos à sabotagem dos acordos de Minsk por parte do regime de Kiev e à discriminação aberta contra a população russófona da Ucrânia.

A Ucrânia, com esta gente à frente e este regime no poder, não tem nenhuma soberania e tem sido fantoche nas mãos dos bonequeiros ocidentais.


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