Intervenção do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, na Reunião dos Diretores dos Serviços de Segurança e Informações dos Estados Membros da CEI, Moscovo, 30 de setembro de 2022
Senhor Naryshkin,
Distintos Participantes,
A reunião anual dos Diretores dos Serviços de Segurança e Informações dos países da CEI é uma prova viva do elevado nível de cooperação, confiança e compreensão mútua existente entre os nossos países.
O vosso trabalho conjunto é hoje mais relevante do que nunca. O "Ocidente coletivo" liderado pelos EUA não está disposto a abandonar a sua política de domínio global voltada para a resolução dos problemas do seu próprio desenvolvimento à custa dos interesses de outros membros da comunidade internacional. O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, falou detalhadamente sobre isso na reunião de ontem convosco. Washington usa o conceito de "ordem mundial baseada em regras" como disfarce ideológico para os seus planos agressivos. Este conceito é de natureza flagrantemente neocolonial e implica a divisão do mundo em “países eleitos”, um “milhar de milhões de ouro” e outros países que devem obedecer às políticas ocidentais em detrimento dos seus interesses nacionais vitais. Obviamente, esta posição vai contra os anseios da maioria esmagadora dos países do mundo que está interessada na criação de uma ordem mundial mais justa e verdadeira democratização das relações internacionais.
Não é segredo para nenhum de vós que a filosofia de "dividir para reinar" é também ativamente aplicada pelo Ocidente em relação aos países pós-soviéticos. O seu objetivo é claro: fragmentar ainda mais o espaço pós-soviético, dividir os nossos países e povos, impor-lhes padrões desfavoráveis de interação e empurrar-nos para as “traseiras” dos processos globais.
O resultado mais vívido desta política é a transformação da Ucrânia numa cabeça de ponte antirrussa. Foi precisamente este o objetivo dos seus esforços de longa data voltados para a implantação de um regime neonazi, russofóbico, em Kiev e dos fornecimentos maciços de armas modernas às forças armadas e unidades nacionalistas da Ucrânia. Hoje, Washington, Londres e Bruxelas não fazem segredo das suas intenções desatinadas de continuar a investir na luta contra a Rússia "no campo de batalha" e a lutar contra o nosso país com as mãos e vidas dos ucranianos, encarando-os como material de consumo.
Ao seguir a sua política de “cancelamento da Rússia” (como eles dizem), os anglo-saxões fizeram com que o “Ocidente coletivo”, a NATO e a União Europeia, que perdeu completamente a sua autonomia estratégica e está a sofrer enormes perdas com as políticas praticadas a mando dos EUA, lhes obedecessem incondicionalmente.
A política irresponsável do Ocidente para o espaço euro-asiático não se limita à Ucrânia. Lembramo-nos de como eles tentaram, há dois anos, realizar uma “revolução das cores” na Bielorrússia. O povo sábio deste país irmão não se deixou enganar. No entanto, é óbvio que nenhum país da CEI está imune a este tipo de interferência nos seus assuntos internos.
As ações descaradas dos EUA, NATO e UE na Ásia Central e no Cáucaso do Sul é uma prova clara disso.
Caros colegas,
As rápidas mudanças na situação internacional impõem a necessidade de intensificarmos a cooperação honesta, igual e mutuamente vantajosa entre os nossos países e reforçarmos a segurança regional e nacional. Consideramos eficazes estruturas especializadas da CEI como o Conselho de Ministros do Interior, o Centro Antiterrorismo, o Conselho de Comandantes das Tropas de Guarda Fronteira e a vossa Reunião.
Preocupados em responder eficazmente às ameaças e desafios externos comuns, incluindo os que emanam do Afeganistão, atribuímos grande importância ao aprofundamento da nossa interação no âmbito da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC). As ações bem-sucedidas da sua Força de Paz no Cazaquistão em janeiro passado com vista à normalização da situação naquele país desestabilizada pelos distúrbios de massa apoiados externamente foram uma prova eloquente da maturidade e da elevada fiabilidade desta Organização.
Está agora em apreciação a hipótese de utilizar observadores da OTSC para a promoção de condições favoráveis à implementação dos acordos dos líderes do Azerbaijão, Arménia e Rússia referentes nomeadamente à delimitação da fronteira entre a Arménia e o Azerbaijão, à normalização das relações entre Baku e Erevan e à formalização de um respetivo acordo. Penso que o apoio da CEI também seria necessário.
Face aos novos desafios e ameaças, a questão da segurança biológica merece uma atenção especial. Como mostram as "descobertas" feitas durante a operação militar especial, os programas biológicos para fins militares não declarados que foram ou estavam a ser implementados na Ucrânia com o apoio do Pentágono representavam uma ameaça grave direta não só para a Rússia. Não foi por acaso que os norte-americanos tentaram fazer os possíveis para apagar os vestígios das suas experiências nos territórios atualmente libertados. Quando descobrimos estes laboratórios, Victoria Nuland mencionou, durante a sua intervenção no Congresso, que havia riscos de que os dados sobre as atividades dos laboratórios do Pentágono caíssem nas mãos de especialistas russos. Portanto, tinham o que esconder. Temos boas razões para crer que, bem perto das fronteiras da Rússia, se criavam componentes de armas biológicas e se ensaiavam mecanismos de desestabilização da situação epidemiológica.
Exigimos no Conselho de Segurança da ONU, no âmbito da Convenção sobre Armas Biológicas e Toxínicas, que os Estados Unidos nos dessem explicações necessárias e garantissem a total transparência e legitimidade dos seus programas biológicos em todo o mundo. Estamos à espera da sua resposta adequada.
O combate à migração ilegal e a adaptação dos mecanismos de regulação das relações de trabalho às necessidades do desenvolvimento socioeconómico dos nossos países continuam a ser relevantes na cooperação das autoridades de aplicação da lei e dos serviços de informações.
Tendo em conta a natureza complexa dos desafios e ameaças comuns, consideramos necessário não diminuir os nossos esforços para melhorar a cooperação no seio da CEI, da OTSC e OCX e desenvolver uma ação coordenada em áreas semelhantes entre estas estruturas que representam hoje um bom exemplo de cooperação prática em pé de igualdade e de verdadeira diplomacia multilateral. Todas estas organizações estabeleceram relações com o Secretariado da ONU. É importante reforçar este "elo" no contexto do nosso trabalho comum com vista ao desenvolvimento dos processos de integração na grande Eurásia.
Caros colegas,
É de nós, dos nossos esforços concertados em todos os campos que dependem as perspetivas das nossas associações comuns, a nossa capacidade de neutralizar todas e quaisquer tentativas de pressão externa, de reforçar a segurança regional e de garantir a prosperidade dos nossos povos.