Principais pontos do briefing proferido pela porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, Moscovo, 15 de maio de 2024
Resumo da sessão de perguntas e respostas:
Pergunta: O que poderia dizer sobre as atuais relações russo-portuguesas?
Maria Zakharova: Infelizmente, não posso dizer nada de bom. A guerra híbrida desencadeada pelo "Ocidente coletivo" contra a Rússia teve um impacto devastador em todo o conjunto das relações da Rússia com Portugal. Devido à posição hostil de seguir rigorosamente a trilha de ações antirrussas assumida por Lisboa após o lançamento da operação militar especial, as relações bilaterais russo-portuguesas estão a atravessar a crise mais grave da sua história moderna.
Por iniciativa do lado português, todos os contactos políticos bilaterais foram congelados, enquanto os laços económicos bilaterais foram reduzidos a trocas comerciais limitadas. Por decisão da direção da Assembleia da República, o grupo parlamentar de amizade Portugal-Rússia foi dissolvido. A cooperação entre regiões dos dois países foi encerrada. A 20 de fevereiro de 2024, a Assembleia Municipal de Lisboa decidiu denunciar o Protocolo de Amizade e Cooperação com Moscovo, de 1997. O país está a viver uma campanha antirrussa e russofóbica desenfreada fomentada a nível oficial.
As autoridades portuguesas minimizaram todos os contactos com a Embaixada da Rússia em Lisboa, tendo o nosso Embaixador sofrido, de facto, um regime de isolamento por parte tanto do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal como de outros organismos centrais do país.
Não é clara a razão por que tudo isto a ser feito. Os nossos dois países têm um monte de questões por resolver. No entanto, esta é a política de Lisboa que está a seguir o rumo antirrusso e russofóbico ilegítimo. Não sei se isso está a ser feito sob pressão da NATO, da União Europeia ou dos Estados Unidos ou se um lobby antirrusso em Portugal está a fazer a sua campanha, é-me difícil dizer.
Sublinhamos que esta não é uma escolha nossa. Estamos convencidos de que o atual colapso das relações russo-portuguesas não é, de nenhum modo, do interesse vital do povo português. Esperamos que, mais cedo ou mais tarde, uma avaliação racional dos factos objetivos do mundo moderno e das mudanças tectónicas que nele estão a ocorrer e a compreensão da necessidade de reatar gradualmente os laços mutuamente benéficos e mutuamente respeitosos entre os nossos dois países venham a prevalecer.
A Rússia continua aberta a ter relações com todos os parceiros estrangeiros, incluindo aqueles a que chamamos regimes hostis. Saliento que me refiro precisamente aos regimes e não às pessoas que se tornaram vítimas desses regimes. Estamos abertos a ter relações com todos os países em pé de igualdade soberana dos Estados e de respeito pelos interesses nacionais uns dos outros.