Discurso e respostas a perguntas da mídia do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação da Rússia, Serguei Lavrov, durante coletiva de imprensa conjunta com o Ministro das Relações Exteriores da República Democrática Socialista do Sri Lanka, Dinesh Gunawerdena, Colombo, 14 de janeiro de 2020

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Prezadas senhoras, prezados senhores,

Antes de tudo, gostaria de agradecer ao meu colega, Ministro das Relações Exteriores do Sri Lanka, Dinesh Gunawerdena, pela receção cordial.

O Sri Lanka é um parceiro de longa data do nosso país. Desde o estabelecimento das relações diplomáticas em 1957, as nossas relações têm-se desenvolvido tradicionalmente em pé de igualdade de direitos, respeito mútuo, levando em conta os interesses de cada um de nós.

Ficamos contentes em constatar a intensidade crescente do diálogo político, inclusive ao nível superior. Hoje, constatamos o progresso da realização dos acordos alcançados durante a visita à Rússia do Presidente do Sri Lanka, Maithripala Sirisena, em março de 2017. Entre outras coisas, concordamos em tomar medidas adicionais para aumentar nossas trocas comerciais dos US$ 400 milhões atuais para os US$ 700 milhões anuais. Esta questão será examinada com atenção especial durante os preparativos para mais uma sessão da Comissão Intergovernamental de Cooperação Comercial, Econômica e Tecnológico- Científica que terá lugar na Rússia na segunda metade do ano corrente.

Há progresso da cooperação na área técnico-militar, no domínio de contatos militares e entre os órgãos de proteção da ordem pública. Existe uma base jurídica de acordos para o trabalho nestes aspectos. Concordamos em acelerar a preparação de vários documentos novos, inclusive na área do uso pacífico da energia nuclear, nos assuntos da aduana e em outras áreas.

Discutimos em detalhe o desenvolvimento do turismo. Conforme disse o meu colega, o número de turistas russos está crescendo em flecha e bastante rapidamente. Agradecemos aos nossos amigos do Sri Lanka pelas medidas tomadas para garantir a segurança de nossos cidadãos que passam férias nesta ilha. A retomada de voos diretos a Colombo pela empresa Aeroflot que se deu um pouco mais de um ano vem favorecendo o crescimento intenso do fluxo de turistas do nosso país para o Sri Lanka.

Prossegue a cooperação estreita entre as chancelarias graças ao mecanismo de consultas regulares, existente desde 2000. As nossas atitudes para com os problemas essenciais da vida internacional coincidem, principalmente, no que tange ao respeito pelo direito internacional, pela Carta da ONU e pelo papel central desempenhado por este organismo.

Agradecemos aos nossos amigos do Sri Lanka pelo tradicional apoio das iniciativas russas promovidas na Assembleia Geral da ONU em tais áreas como a inadmissibilidade da heroização do nazismo, a prevenção da corrida armamentista no espaço, a segurança internacional na área da informação, a luta ao cibercrime e o fortalecimento dos acordos na área do controle de armamentos e não proliferação de armas.

As nossas delegações vão coordenando, de forma eficiente, suas abordagens em tais instituições internacionais como o Conselho da ONU para os Direitos Humanos, a UNESCO, a OPAQ.

Anuímos em coordenar nossos enfoques em relação aos eventos que terão lugar no âmbito da ONU em homenagem dos 75 anos da Vitória na Segunda Guerra Mundial.

A Rússia e o Sri Lanka são também unidos pela tarefa de progressiva democratização das relações interestatais com respeito à diversidade cultural e civilizacional do mundo contemporâneo. Neste sentido, um papel importante é desempenhado por tais organizações de novo tipo, como o BRICS e a OCX, nas quais a Rússia, no ano corrente, assume a presidência rotativa. O Sri Lanka é parceiro aberto para o diálogo no âmbito da OCX. Hoje, confirmamos o nosso interesse para uma participação mais enérgica e mais ampla dos nossos amigos das atividades desta organização.

Vamos fortalecer nossa cooperação também nos marcos do Movimento dos Não Alinhados, onde a Rússia é observadora e o Sri Lanka esteve no início deste Movimento.

Prestamos hoje atenção especial à necessidade de aumentar a eficiência do combate ao terrorismo. Manifestamos apoio total às autoridades do Sri Lanka nos seus esforços de estabelecer e responsabilizar os organizadores dos atentados terroristas desumanos organizados em abril do ano passado.

O meu colega informou-me detalhadamente sobre as medidas tomadas pelo Presidente do Sri Lanka, Nandasena Gotabaya Rajapaksa, e o Governo do país para normalizar a situação no interior, garantir a proteção da ordem pública, o acordo nacional em plena conformidade com a Constituição do país. Estes esforços gozam de um pleno apoio da nossa parte.

Terminando, convido o senhor Ministro a visitar a Rússia quando puder. Espero continuar a nossa cooperação.

Pergunta: Vêm surgindo várias conjeturas e comentários de analistas da mídia a dizer que, com a interferência de Estados estrangeiros, o conflito líbio ameaça repetir um triste destino da Síria. O senhor partilha tais receios? Em que a atitude da diplomacia russa para com a situação na Líbia difere da regulação síria?

Serguei Lavrov: Se a Líbia se tornar em uma segunda Síria, acho que o povo líbio ficaria ganhando. Lamentavelmente, agora a Líbia é um país que carece de estruturas estatais indispensáveis e de importância vital. O Estado da Líbia foi bombardeado pela OTAN em 2011, e agora estamos lidando com as consequências daquela aventura criminosa, ilegal, e, antes de tudo, está lidando com isso o povo líbio. Queremos unir os esforços que os europeus estão tomando, inclusive os alemães, os franceses, os italianos, os vizinhos da Líbia (Argélia, Egito) e também os Emirados Árabes Unidos, a Turquia, o Qatar e a Rússia, para que todos atuem em um só sentido, instigando as partes líbias a procurarem acordo e não continuarem usando força em hostilidades mútuas.

Vocês sabem que a Rússia e a Turquia, durante a visita do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, a Istambul em 8 de janeiro do ano corrente, lançaram iniciativa sobre o cessar-fogo na Líbia. No prosseguimento dessa proposta, teve lugar ontem em Moscou um encontro de representantes líbios, com a participação dos ministros da Defesa e chanceleres da Rússia e da Turquia. Vamos continuar fazendo esforços neste sentido. Ainda não alcançamos o resultado final.

No que toca à Síria, já que o senhor quer comparar estes dois países, posso dizer o seguinte. Graças à ajuda ativa da Rússia que atendeu ao apelo do governo legítimo desse país, a Síria evitou o destino que a OTAN preparou para a Líbia. Cerca de 90% do território sírio é controlado pelo governo legítimo. Há focos de atividade terrorista, Idlib entre eles, onde os extremistas perdem gradualmente as suas posições. Mas - falando em termos de comparação entre a Síria e a Líbia – eles, lamentavelmente, passam a deslocar-se para a Líbia a fim de continuar a “embrulhar as coisas” nesse país.

Claro que persistem ainda problemas no Nordeste da Síria, provocados principalmente pela presença ilegal dos militares estadunidenses que encorajam ativamente o separatismo na margem direita do rio Eufrates. Paralelamente com a solução destas questões pendentes, podemos constatar que o governo do Presidente da Síria, Bashar Assad, está ampliando sucessivamente o controle sobre o território do seu país.

Mais uma diferença da situação na Síria e na Líbia, que não vai a favor da Líbia, consiste no processo político que se conseguiu iniciar. Este processo foi possível devido à atitude responsável de todas as partes sírias com o apoio dos atores externos. Nestes dias, trabalhamos exatamente para que todas as partes líbias manifestem tal responsabilidade pelo destino do seu país.

Pergunta: O Primeiro-Ministro da Rússia, Dmitry Medvedev, encarregou a chancelaria russa de elaborar medidas visando garantir a segurança dos russos no Oriente Médio. Será que estas medidas foram elaboradas? Em que elas consistem?

Serguei Lavrov: O Ministério dos Negócios Estrangeiros não pode resolver tais questões por conta própria. Cooperamos com nossos colegas dos serviços especiais e, claro, com peritos em matéria de segurança da aviação civil. Após uma análise coletiva, assente em opiniões dos profissionais na área, informamos os nossos cidadãos através de aplicações especiais. Vocês podem ler recomendações, estão nesta aplicação.

Pergunta: Será verídica a informação divulgada pela mídia sobre suposta recomendação que a empresa Aeroflot teria recebido da chancelaria russa para limitar voos noturnos para Teerã?

Serguei Lavrov: A Aeroflot tomou sozinha a decisão de realizar voos diurnos para o Irã. De modo que não haja aqui segredo algum.

Pergunta: Eu tenho uma pergunta sobre o conflito entre os EUA e o Irã. Existe perigo de que toda a região vai sentir consequências da eventual escalada da situação, e no caso do Sri Lanka, isso vai afetar o comércio de chá, borracha e preços do combustível. Se a escalada crescer, a Rússia irá interferir para ajudar a região, especialmente o Sri Lanka?

Existe a opinião que estaria acontecendo no Iraque uma guerra das forças proxy dos EUA e do Irã. É possível uma guerra indireta entre os EUA e a China no território do Sri Lanka, levando em conta o interesse com que a comunidade internacional olha para este país?

Serguei Lavrov: Claro, ninguém pode ficar satisfeito com aquilo que está acontecendo na região do Golfo Pérsico em que aumentam a tensão e o nervosismo que se repercutem em ações práticas, levando à morte de pessoas.

Claro que não podemos ignorar o fato de que tudo começou há uns anos, no momento em que os EUA se declararam confiantes de que todos os problemas da região teriam sido fruto da atividade do Irã, que o Irã seria o principal terrorista (ainda que ninguém é capaz de prová-lo) e que o Irã devia cessar de exercer influência fora das suas fronteiras.

Paralelamente, os EUA desistiram de seus compromissos no âmbito do Plano de Ação Conjunta Global (JCPOA, pela sigla em inglês), desataram a punir com sanções todo aquele que se empenhasse em comércio legítimo com o Irã, o que também levou ao agravamento da tensão.

O assassinato de Qassem Suleimani, representante oficial do governo do Irã, que estava em visita oficial no Iraque, país vizinho, virou um auge das ações ilegítimas de Washington. Isso ultrapassa todos os limites do direito internacional e da humanidade.

Manifestamo-nos contra a escalada de qualquer lado, qualquer que fosse a sua origem. Não tencionamos “interferir-nos”, como o senhor o disse, nas relações entre os EUA e o Irã, se usando o verbo “interferir-se” o senhor quer dizer “fazer ações físicas”. Apelamos aos EUA e à República Islâmica do Irã a serem moderados e a resolverem todos os problemas através do diálogo. Se compreendo bem, os EUA também se mostraram disponíveis para diálogo com o Irã, mas acrescentam sempre: “sem condições prévias”, porém com as propostas de iniciar tal diálogo não deixa de crescer aquilo que eles chamam de “sanções asfixiantes contra o Irã”. Resulta que são os EUA que, convidando o Irã para um diálogo sem condições prévias, propõem condições prévias sob a pressão das sanções. Muitos tentavam e continuam tentando facilitar o início de contatos entre os EUA e o Irã para reduzir a tensão. Avaliamos positivamente a iniciativa proposta pelo Presidente da França, Emmanuel Macron, os esforços do Primeiro-Ministro do Japão, Shinzo Abe, e também nós próprios estamos prontos para ajudar se as partes manifestarem interesse real nisso.

Compreendemos a preocupação do Sri Lanka com possíveis consequências negativas do conflito na área do Golfo Pérsico para as exportações dos bens tradicionais no comércio do Sri Lanka com seus parceiros. Não só seus produtores serão afetados. O Golfo Pérsico é um lugar onde passam artérias de transporte de importância estratégica para o comércio mundial, inclusive o comércio de recursos energéticos.

Por isso é do nosso interesse comum facilitar o fortalecimento de confiança na área do Golfo Pérsico e na região mais amplamente vista. A proposta russa que apresentamos em uma conferência especial em Moscou em setembro visa isso, prevendo o início de formação do sistema de segurança coletiva no Golfo Pérsico e nas suas proximidades.

Esperamos que todas as partes interessadas comecem a discutir as vias de diminuição de escalada da tensão e de estabelecimento das relações de boa vizinhança normais.

Pergunta: Que passos concretos são planejados para reforçar a cooperação entre a Rússia e o Sri Lanka na área de segurança?

Serguei Lavrov: Com o Ministro das Relações Exteriores da República Democrática Socialista do Sri Lanka, Dinesh Gunawerdena, manifestamos satisfação pelo desenvolvimento da nossa cooperação na área de segurança. A Rússia tem fornecido e está pronta para continuar fornecendo armamentos que o Exército do Sri Lanka necessita para garantir a sua prontidão operacional para manter a segurança.

Pergunta: O Sri Lanka pode esperar da Rússia investimentos no futuro mais próximo?

Serguei Lavrov: Nossos amigos do Sri Lanka estão interessados na captação de investimentos da Federação da Rússia, inclusive na área de prospecção e extração de hidrocarbonetos, na área da criação de infraestrutura turística. Estou convencido que para uma discussão concreta destas ideias, é preciso desenvolver de maneira mais ativa os contatos diretos entre os representantes da área de negócios dos dois países.



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